“Fomos descartados como cachorros de rua”, diz um dos médicos demitidos em Oiapoque

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Médicos que foram demitidos do hospital estadual de Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, afirmam que sofriam assédio moral e que problemas pessoais com o diretor da unidade resultaram no afastamento deles sem nenhum aviso prévio. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou que as demissões só foram efetivadas depois do resultado de investigações que apontaram que os médicos não cumpriam as 40 horas semanais, conforme o contrato de trabalho assinado com o Estado.

De acordo com os médicos, os comunicados das demissões foram repassados pela direção do hospital na última segunda-feira, 9, sem nenhum documento formal. “Depois disso viemos para Macapá para conversar com os representantes da Sesa que nos passaram as demissões formalmente na manhã desta quarta-feira”, contou o médico cirurgião Luiz Alexandre da Silva, que trabalhava há 11 anos no hospital de Oiapoque.

A médica Rosemary Queiroz se demitiu em solidariedade aos colegas

A médica Rosemary Queiroz se demitiu em solidariedade aos colegas

Entre os motivos da demissão, a Sesa destacou, através de uma nota, que além do não cumprimento da carga horária semanal, os médicos deixavam de cumprir sobreavisos e não prestavam alguns serviços obrigatórios. A secretaria complementou que as demissões ocorreram após um trabalho de avaliação de atendimento do hospital, em que funcionários e pacientes relataram a ausência dos médicos nos plantões.

Essa versão foi contestada pelos médicos. “Tudo isso não passa de calúnia. Os livros de plantões e escalas mostram que estávamos presentes em todos os dias que fomos escalados. Usaremos esses livros para entrar com uma ação na Justiça contra o Estado”, afirmou a médica Rosemary Queiroz da Silva.

Depois de "virar" plantões e emprestar equipamentos ao hospital,  Luiz Alexandre se sente injustiçado

Depois de “virar” plantões e emprestar equipamentos ao hospital, Luiz Alexandre se sente injustiçado

Os médicos se defendem revelando que sofriam assédio moral por parte da direção do hospital, porque não aceitavam calados os problemas estruturais da unidade. Segundo eles, o hospital não tem mínima estrutura de atendimento. “O problema foi puramente pessoal, pois sempre brigamos com a direção por conta da falta de estrutura. Eu até emprestava a minha mesa cirúrgica para ajudar no atendimento, enquanto o Estado não comprava o equipamento. Teve um período que passei por vários plantões seguidos, pois não havia médico para me substituir e agora fomos descartados como cachorros de rua”, reclamou Luiz Alexandre.

Imagem do hospital de Oiapoque em obras

Imagem do hospital de Oiapoque durante as obras

“O governo anuncia a conclusão de parte das obras de revitalização, mas não há equipamentos para alguns procedimentos. Isso nos levava a questionar a direção do hospital e a mostrar a sociedade os problemas. Foi por isso que as brigas com a direção aumentaram e agora somos informados da demissão”, concluiu Luiz Alexandre.

A médica Maira Aline da Silva não foi demitida, mas em solidariedade aos colegas está saindo também do hospital. Os médicos não querem mais o retornar aos postos de trabalho, mas querem uma retratação por conta do assédio que dizem ter sofrido. Além de Luiz Alexandre, também foram demitidos Daniel de Quadros (clinico geral) e André Cezar Coelho da Silva (cirurgião).

A Sesa informou que já contratou outros quatro médicos, que foram para o hospital de Oiapoque nesta quarta-feira para não deixar a população do município desassistida.

Seles Nafes
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