“Perguntaram se eu falava português”, diz finalista do Master Chef

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Quem acompanha a participação da amapaense Jamyly Monard, de 22 anos, no reality show MasterChef Brasil, sabe que ela passou por mais uma etapa e está na fase final da competição, ao lado de outros nove participantes.

Esta semana Jamyly está em Macapá para fazer o Enem, que segundo ela, faz parte de seu plano de conseguir uma bolsa de estudos para cursar Gastronomia. Um sonho que foi adiado em 2014, mas agora é o ponto de partida para 2015.

SelesNafes.Com conversou com ela para saber como está sendo toda essa experiência. Acompanhe os principais trechos.

antes de mais uma gravação

Antes de mais uma gravação

SelesNafes.Com: Hoje você está mais que consolidada no programa. Mas como foi o processo de adaptação?

Jamyly Monard: Desde o início passei por grandes dificuldades para conseguir participar do programa. Lutando para me manter em São Paulo e enfrentando o preconceito em relação as pessoas do Norte. Isso sem contar com  a saudade da minha família. Mas o pior de tudo foi a pressão dos jurados, que me deixava com os nervos a flor da pele. Por isso chorei várias vezes durante o programa. Alguns companheiros de programa não entendiam e afirmavam que tudo não passava de joguinho para sensibilizar os jurados.

SN: Teve algum momento que você pensou em desistir?

JM: Nunca. Sempre tive muita força de vontade e não deixo que as palavras de outras pessoas me impeçam de correr atrás do meu sonho, que é me tornar uma Chef especializada. Levo o tempero do Norte no meu caderno de receitas e levantando a bandeira do orgulho de ser nortista. Tudo para lutar contra o preconceito que encontramos quando vamos para o Centro-Sul do Brasil.

 SN: Que tipo de preconceito?

JM: As pessoas criadas no Sudeste são competitivas e acabam transparecendo essa competitividade em forma de preconceitos. Também existe o medo de perderem espaço para as pessoas que vão tentar a vida nesses estados. Para ter uma ideia, chegaram e me perguntaram se eu falava mesmo português. E como eu não tenho muita paciência para essas ignorâncias respondi que não. Que a minha língua mãe é o Tupi Guarani. Às vezes pensamos que os comentários de amapaenses sobre o preconceito enfrentando nessas regiões são exagerados. Mas tudo é verdade. Eles realmente pensam que nascemos na rede, andamos de canoa e com onças e cobras pelo meio da rua.

Entre os compeetidores

SN: E como foi conseguir se instalar em São Paulo e lutar contra o preconceito?

JM: Foi difícil, principalmente porque o programa não oferece acomodações aos participantes. Recebemos uma ajuda de custo a cada programa que passamos. Não chega a R$ 500 e isso não dá pra nada, principalmente em São Paulo. No início não sabia o que fazer. Precisava dividir um hotel, mas não sabia com quem. Isso me deixava muito preocupada, uma preocupação que transparecia durante as gravações dos programas. Mas logo tive um anjo da guarda, a participante Marli Rocha, que não está mais no programa, conseguiu uma pessoa para eu dividir um apartamento na área que chamam da área baixa da Rua Augusta.

SN: Como você fazia com pouco dinheiro?

JM: Ganhava R$ 480 por cada programa passado. Desse dinheiro, R$ 400 eu passava para a minha companheira de quarto e outros R$ 80 usava para pagar a passagem de ônibus ou metrô para chegar à sede da TV Bandeirante. Por sorte almoçávamos no que chamávamos de “bandeijão” da Band, junto com todos os funcionários. E a noite me virava, até porque passava o tempo todo sozinha. Minha companheira de apartamento é fotógrafa de uma drag queen  muito conhecida em São Paulo, a Tchaca, a Rainha das Festas. Por isso trabalhava a noite e dormia de dia. Uma rotina diferente da minha, então pouco conversávamos, e às vezes a solidão batia.

SN.com: E depois do programa?

JM: Vou continuar correndo atrás dos meus sonhos. Nesse fim de semana estarei fazendo o Enem para buscar uma bolsa de estudos para conseguir cursar Gastronomia e me especializar cada vez mais. Um caminho que quero terminar com cursos no exterior, aproveitando o espaço que o programa pode abrir nesse ramo. Depois quero voltar para Macapá, já especializada, para abrir meu próprio restaurante, enfatizando o tempero do Norte, que é muito mais cheio de vida que os temperos usados em São Paulo.

Seles Nafes
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