No aterro controlado: Pesquisadores tentam recuperar carcaça de peixe-boi

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A descoberta de um peixe-boi (morto) na orla do Rio Amazonas no último fim de semana chamou a atenção de uma leitora do site, a pesquisadora Danielle Lima, associada ao Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa) e ao Instituto Mamirauá (IDSM – Amazonas). Ela faz parte de um grupo formado pela bióloga Claudia Silva (Iepa) e o médico veterinário Luiz Sabioni (Instituto Mamirauá), dedicado à conservação das espécies de mamíferos aquáticos, incluindo o peixe-boi amazônico e marinho.

Depois de ler a notícia sobre o peixe-boi encontrado por moradores na orla do Santa Inês, o grupo, que não foi notificado sobre a ocorrências, ainda tentou reciperar a carcaça do animal no aterro controlado da BR-210, mas não conseguiu localizá-lo em função da grande quantidade de lixo que chega todos os dias ao local. Danielle escreveu um artigo no sentido de orientar as pessoas sobre como proceder em possíveis novas situações. Obrigado, Danielle! 

Segundo a pesquisa, o animal tem grande possibilidade de ser da espécie "peixe-boi amazônico"

Segundo a pesquisa, o animal tem grande possibilidade de ser da espécie “peixe-boi amazônico”

“Ao longo dos últimos oito anos, um grupo de pesquisadores atua no estado do Amapá em prol da conservação das espécies de mamíferos aquáticos. Sediado no IEPA (campus Fazendinha), o “Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos (GPMAA) – Ecossistemas Costeiros” é composto por pesquisadores da referida Instituição e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Amazonas), em parceria local com o ICMBio e IBAMA. O objetivo do Grupo é obter informações sobre a ocorrência de mamíferos aquáticos (como peixes-bois, botos/golfinhos, lontras, ariranhas e baleias) ao longo dos sistemas hidrográficos e costeiros no Amapá, por meio da observação de animais em vida livre, reabilitação e soltura de animais encontrados órfãos/debilitados, entrevistas aos moradores locais etc. Dentre as ações de pesquisa, encontra-se o resgate de animais mortos.

No último caso notificado pela imprensa, não houve repasse de informação à nossa Equipe. Em casos semelhantes, o ideal é que instituições como o Iepa, ICMBio e Ibama também sejam notificados. Atuamos em conjunto no atendimento aos resgates de mamíferos aquáticos vivos ou mortos, e o GPMAA/IDSM/IEPA assume a responsabilidade de necropsiar a carcaça e realizar, bem como encaminhar, as devidas análises para identificar a causa mortis. Animais mortos, em qualquer estado de decomposição, nos fornecem informações muito importantes sobre a espécie, principalmente no Amapá, onde há uma lacuna de dados sobre mamíferos aquáticos.

A exemplo da carcaça de peixe-boi resgatada no último dia 13, no bairro Santa Inês, caso as medidas adequadas tivessem sido tomadas, poderíamos ter obtido, com maior exatidão, a causa da mortalidade, bem como informações sobre sexo, maturidade sexual, variabilidade genética dentre outras questões. O material osteológico, por exemplo, seria encaminhado para a coleção científica do IEPA e disponibilizado para futuras pesquisas. É muito importante salientar que jamais uma carcaça de mamífero aquático (e qualquer outro animal silvestre) deve ser encaminhada para o aterro sanitário. Além de impedir a geração de dados científicos, é um risco sanitário à população humana.

A partir das fotos disponibilizadas pela imprensa, acreditamos que o espécime seja um peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis). Entretanto, análises genéticas seriam necessárias para confirmar a informação, uma vez que no estado do Amapá ocorrem as duas espécies de peixes-bois e, consequentemente, podem ocorrer espécimes híbridos (resultado do cruzamento de um indivíduo da espécie amazônica e marinha).  

Muitas informações importantes poderiam ter sido colhidas se os pesquisadores tivessem sido avisados

Muitas informações importantes poderiam ter sido colhidas se os pesquisadores tivessem sido avisados

O peixe-boi amazônico é o único mamífero aquático de hábito alimentar exclusivamente herbívoro, podendo atingir até três metros de comprimento e pesar quase meia tonelada. Dentre os membros da ordem Sirenia, a espécie amazônica é a de menor tamanho e também a única que ocorre apenas em água doce. Há registros de ocorrência da espécie em toda a bacia amazônica, desde a Colômbia, Peru, Equador até a foz do rio Amazonas. A espécie é considerada como vulnerável à extinção pelas listas vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A baixa capacidade reprodutiva também é um fator de risco para o desaparecimento da espécie. As fêmeas dão à luz somente um filhote a cada dois ou três anos.

Ressalto que membros de nossa equipe contataram o Aterro Sanitário de Macapá, na pessoa do Sr. Madeira, com o intuito de tentarem recuperar a carcaça do animal. Entretanto, ainda que tenha sido empregado um enorme esforço de busca, utilizando todos equipamentos disponíveis, não houve sucesso. O aterro sanitário de Macapá recebe, aproximadamente, 200 toneladas/dia de lixo por dia, ressaltou o Sr. Madeira.

Caso outros eventos como este sejam notificados pela população local, bem como pelo Batalhão Ambiental ou Corpo de Bombeiros, pedimos a gentileza de também entrar em contato com as Instituições listadas abaixo. A união de esforços permite a adoção de medidas adequadas. Ressaltamos que a equipe técnica do “GPMAA – Ecossistemas Costeiros” é composta por biólogos, médicos veterinários e auxiliares de campo especializados no atendimento a resgate de mamíferos aquáticos vivos e mortos. Ademais, as Instituições parceiras, como o ICMBio e IBAMA, nos concedem também o apoio logístico necessário e essencial para casos semelhantes”. 

GPMAA – Ecossistemas Costeiros: 98105-7213 (médico veterinário, Luiz Sabioni); 99195-6954/98133-6891 (equipe) – apenas para casos relacionados a mamíferos aquáticos

IEPA: 3212-5340

ICMBio: 3243-1555

IBAMA: 2101-6769

Seles Nafes
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