Curiosidade: “Eu sempre fui uma mulher de família”, diz a dona do Bar da Loura

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André Silva

É claro que muita gente ainda deve lembrar do “Bar Caboclo”, o famoso cabaré de Macapá que entre as décadas de 1950 e 1970 atraía os boêmios em busca de sexo fácil e outros tipos de diversão. Antes de seu fechamento, em meados dos anos de 1990, o lugar já tinha virado música, tema de histórias engraçadas e até peça teatral, até que outro “estabelecimento de encontros” também entrou para o folclore de Macapá. De boca em boca, piada em piada, virou um dos endereços mais famosos de Macapá: Paraná, 500, rua onde fica o “Bar da Loura”.

O Bar da Loura é um movimentado ponto de garotas de programa visto por muitos como embrião do extenso corredor de prostituição que virou a Claudomiro de Morais, rua que corta os bairros Santa Rita, Buritizal e Congós.

O site SelesNafes.Com decidiu bater na porta do Bar da Loura para contar a história do lugar, e acabou encontrando a “Loura”. Sim, ela existe. A comerciante concordou em falar com a reportagem sob algumas condicionantes: ser identificada apenas como Iraci e também não ser fotografada.

Bar Caboclo também era conhecido como "Bar do Chico", pouco antes de fechar. Reprodução: Blog Porta Retrato

Bar Caboclo também era conhecido como “Bar do Chico”, pouco antes de fechar. Reprodução: Blog Porta Retrato

Apesar do cuidado com o anonimato, a comerciante recebeu bem o repórter André Silva, destacado para a missão dada (e cumprida). Aí vai o relato do André:

A comerciante começou explicando que o lugar abriu as portas pela primeira vez em 1985, inicialmente como um pequeno mercantil frequentado por moradores de vários bairros, mas que não teve vida longa “por causa dos calotes”.

A venda de alimentos teve que ser substituída pela venda de bebidas, e o negócio prosperou. Funcionários da Eletronorte, do “Chapéu de Palha” (centro comercial da Avenida Padre Júlio Maria Lombaerd), e até da prefeitura de Macapá tinham encontro marcado no bar todos os dias.

Travesti faz ponto próximo ao Bar da Loura. Uma rotina para dezenas de pessoas na Claudomiro de Moraes. Foto: André Silva

Travesti faz ponto próximo ao Bar da Loura. Uma rotina para dezenas de pessoas na Claudomiro de Moraes. Foto: André Silva

O grande movimento de homens e de dinheiro circulando no ambiente aberto do bar causou um outro fenômeno. A chegada de garotas de programa foi ocorrendo naturalmente, apesar de não ter sido planejado, segundo a comerciante. “Fui percebendo que de vez em quando aparecia uma mulher diferente por ali”, recorda. 

Dona Iraci conta que os “buchichos” de que ela seria uma cafetina (agenciadora de prostitutas) foi crescendo até tomar proporções que afetaram a família. Quando ela decidiu arrendar o lugar, anos depois, já era tarde demais. A fama tinha grudado nela e não havia mais nada a fazer, a não ser desistir do empreendimento.

Naquela época, Iraci era casada, e a fama de cafetina causou muitos constrangimentos. “Minhas filhas eram alvo de chacota na escola quando seus colegas descobriram que eram as filhas da Loura. Ainda hoje, eu e minha família sofremos com isso. Parece que um peso se instalou sobre mim. Eu sempre fui uma mulher de família”, queixou-se com lágrimas nos olhos”.

Apesar dos problemas com a imagem, ela continuou administrando o bar até 2006, quando decidiu arrendá-lo para outro comerciante que toca o negócio até hoje. Os filhos já estavam todos formados.

Hoje dona Iraci vive do alugue do Bar da Loura, que mais do que está movimentado, assim como as esquinas ao redor dele.

Seles Nafes
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