Crônica: A força do verbo construir

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Tudo na vida é regido por energia, de bom ou de mal.

Nesses dias de insensatez global, essa máxima tem dimensões de um axioma. A sociedade é líquida, fluídica. Assim como Led Zeppelin é tão pesado, que consegue flutuar.

Na vida tudo se constrói: as casas, o amor, os filhos. Aí vem um sujeito e destrói tudo isso, em nome de uma religião, ideologia, ou mesmo por preconceito racial ou social.

Pois a sociedade, para estes, é sólida. Tem a gravidade de ter que ter posses, como uma mansão ao invés de um lar. Um carro (de luxo) pra cada membro da família (mesmo que sejam apenas três), ao contrário do transporte coletivo das cidades planejadas que garantem a mobilidade a baixo custo a todos os cidadãos.

Em uma época em que o mundo parece que vai naufragar a qualquer momento; populações morrem afogadas no mar para não morrer sob o fogo cerrado dos terroristas ou ditadores cruéis e assassinos; onde a esperança nem é mais nome de bar. Vem uma pessoa e diz que amar não é para pobres. E se um pobre (de grana) descola um amor mais remediado, é porque ele é, com certeza, um espertalhão que quer apenas subir na vida.

Quintana disse: Amar é mudar a alma da casa. Não disse qual casa, se de sapê ou de mármore com detalhes em ouro.

passarinho

Hoje eu acordei com o barulhar dos passarinhos namoradores no beiral da casa em frente minha janela. Procuravam um cantinho para construir o ninho. O mais gordinho presumi ser a fêmea, grávida.

Os passarinhos não sabem nada de amor. Apenas amam e pra sempre. Nem sabem quanto custa construir um ninho, apenas constroem com o conhecimento arquitetônico que é inerente à sua espécie.

Fiquei pensando se a pessoa que mora na casa onde os passarinhos planejam construir seu ninho, será que nem o namorado de uma amiga que, sem qualquer noção, capturou de uma sabiá seus dois filhos já iniciantes na arte do voo.

Nossa sociedade nos ensina que é preciso ter, consumir, consumir, consumir até não aguentar mais.

Por isso tanta violência. Tantos jovens morrendo por causa de um celular, um tênis, uns míseros trocados. Isso sem falar no uso abusivo das drogas e do álcool, porta de fuga da sociedade que é tão densa como as paredes de uma fortaleza.

Um dos filhotes do sabiá morreu nas mãos do jovem sem noção. Mas ele conseguiu seu intento: capturar a mãe deles, que invadiu a casa certa de que poderia salvar seus filhos.

Terroristas matam pessoas às dezenas, achando que isso é fazer o bem. Assim como o amor verdadeiro pode sucumbir diante do medo do que nos é diferente. Sei de uma pessoa que perdeu um grande amor que havia conquistado, porque não fazia parte da classe social a qual esta pertencia.

Essa pessoa acabou morrendo. Virou metáfora social. Mas a sabiá se salvou, levando com ela seu pequeno filhote, que numa hora dessas já teve ser pai ou mãe de novos sabiazinhos.

A vida é líquida e tão leve quanto o metal pesado do Led Zeppelin. Basta agora saber: você é sólido ou fluídico.

Seles Nafes
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