A história de Mazagão Velho, por um de seus filhos

Jornalista tem reconhecido seu trabalho em um dos editais de cultura mais importantes e concorridos do Brasil
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MANOEL DO VALE

O Mazagão Velho guarda algumas das memórias mais antigas da história desse pedaço de Amazônia que hoje é o Amapá. Histórias que atravessaram o Atlântico e foram ancorar à margem do rio Mutuacá, para onde a Coroa Portuguesa mandou as famílias retiradas do Marrocos, na África, juntamente com suas esperanças, cultura, fé e negros. Serviçais cativos, únicos a sobreviver aos rigores da vida que a floresta impunha (e ainda impõe) a quem a habita.

Perdida a posse de Mazagan, a população de 469 famílias que ali resistira a toda sorte de intempéries, por mais de dois séculos e meio, é trasladada até o norte do rio Amazonas para garantir a posse portuguesa desse pedaço do Brasil, através de um dispositivo legal chamado uti possidetis, o direito de posse à terra a quem nela habita, combinado entre os colonizadores ultramarinos do século XVI.

Essa história, que pode ser comparada às do escritor Gabriel Garcia Marques, chamou a atenção de muitos historiadores e documentaristas, pelo inusitado das narrativas que elas carregam, com seus personagens, cenários e desdobramentos surreais.

Gabriel Penha, jornalista:

Gabriel Penha, jornalista: livro conta história de Mazagão. Fotos: Reprodução/Facebook

Agora chegou a vez de outro Gabriel, que não é escritor, mais um vivente da cultura daquela comunidade considerada patrimônio da cultura amapaense, contar a história daquele lugar em um documentário fotográfico impresso, que se desdobra em exposição fotográfica itinerante e palestras até onde lhe seja possível chegar com o orçamento de R$ 50 mil, aprovado pelo Rumus Itaú Cultural, para a impressão de dois mil exemplares do livro, montagem das exposições, produção e divulgação das palestras.

Um projeto extenso, que o jornalista pretende finalizar ainda este ano. E começar a rodar no começo de 2017. Ele ainda conta em conseguir apoio com o empresariado local.

Livro Gabriel Penha

Projeto conta com livro e exposição fotográfica itinerante

Com o projeto “Povo de Cultura e Fé”, de Gabriel Penha, Mazagão Velho tem o registro de sua história colhido, produzido e editado por um de seus filhos, pois a família do jornalista é daquela comunidade.

Depois de pronto, os registros do jornalista poderão ser igualados, em importância, ao trabalho do historiador Laurent Vidal, que produziu o livro ‘Mazagão, a cidade que atravessou o Atlântico’, que conta a saga da 469 famílias pelas água do oceano da África até Portugal, e daí até a margem do Mutuacá; e ao documentário, ainda em produção, do documentarista Gavin Andrews, ‘Mazagão: Mito, memória e migração’, que registra o cotidiano da comunidade e faz a viagem de volta ao Marrocos para apresentar as origem da Mazagão a um casal daquela comunidade.

O projeto do documentarista Gavin Andrews tem codireção de Cassandra Oliveira e foi vencedor do Prodav 05/ANCINE de 2014, tendo sua produção iniciada ano passado e estreia prevista para o segundo semestre de 2016.

Festa do Divino Espírito Santo em Mazagão

Festa do Divino Espírito Santo, em Mazagão, é retratada no trabalho fotográfico do jornalista Gabriel Penha

A diferença é que o projeto “Povo de Cultura e Fé”, é um projeto feito de dentro para fora, como declarou Gabriel Penha.

Segundo o jornalista, o projeto foi bem recepcionado pela comunidade, principalmente porque este aborda um calendário e peculiaridades culturais de plasticidade e importância igual ou maior que a festividade de São Tiago, o evento de maior interesse da mídia e dos turistas de dentro e fora do Amapá.

Só de festividades religiosas são 22, que acontecem ao longo do ano, a maioria delas retratadas pelo autor. O próprio marabaixo de Mazagão é diferente do que se faz em Macapá. Enquanto que o da capital fica confinado à casa do festeiro, os mazaganenses os tem como uma festa itinerante que percorre a comunidade toda.

Exposição vai percorrer diversas cidades

Projeto foi contemplado com R$ 50 mil pelo edital Rumus Itaú Cultural

Gabriel afirma que a interação com a comunidade é o diferencial do trabalho e que inclusive “o desafio maior é dar o ponto de partida na própria Mazagão Velho, para que a comunidade avalie e opine sobre o resultado”.

O jornalista trabalha com a associação cultural da festa de São Tiago, do Ponto de Cultura de lá, e com a assessoria da historiadora Josiane, que juntamente com Josié (do Ponto de Cultura) forma o casal que foi levado à Mazagão africana pelo documentarista Gavin Andrews.

Seles Nafes
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