Ex-vítima de violência e abusos ensina francês a outras mulheres

Objetivo da qualificação é fortalecer autonomia financeira das assistidas do Cram
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ANDRÉ SILVA

Mulheres que são assistidas pelo Centro de Referência e Atendimento à Mulher do Amapá (Cram) estão aprendendo o francês básico. Além delas, artesãs que trabalham no entorno da Casa do Artesão também participarão das aulas que serão ministradas por uma ex-paciente do centro que, depois de recuperada, decidiu ajudar. O curso iniciou na tarde desta terça-feira, 6 e terá duração de 30 dias.

A maioria das mulheres no curso trabalha com artesanato. Muitas já viveram o drama da violência

A maioria das mulheres no curso trabalha com artesanato. Muitas já viveram o drama da violência

No Brasil, uma mulher morre a cada uma hora e meia, e a cada sete minutos uma sofre algum tipo de violência, segundo dados da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres do Amapá. O número de vítimas que desistem do processo contra o agressor tem diminuído, enquanto as denúncias aumentaram.

Para cuidar e dar apoio a essas mulheres e a suas famílias, o Cram está oferecendo um curso de francês básico para iniciantes, voltado para 35 mulheres que recebem atendimento no centro.

Recuperada e ajudando outras vítimas

Andrea Dias Ferreira, 37 anos, é estudante do curso de serviço social e está no terceiro semestre. Ela chegou ao  centro com quadro de depressão grave por conta das inúmeras agressões sofridas quando criança e o uso abusivo de drogas. Depois de recuperada, decidiu ajudar outras mulheres que também foram vítimas de violência e são atendidas pelo centro.

Ela foi tirada dos braços da mãe que era deficiente mental, aos três anos de idade e foi dada a uma família que mora na Guiana Francesa. Ela conta que os abusos começaram quando tinha 7 anos de idade e que a mulher do agressor era conivente com o fato.

Aos 17 anos, ela chegou de Oiapoque, foi quando teve a surpresa.

Renata Apostolo, coordenadora do Cram

Renata Apóstolo, coordenadora do Cram

“Quando cheguei aqui descobri que estava grávida. A mulher com quem morava me sugeriu que eu voltasse para a Guiana, mas eu disse que não. Mesmo sem falar muito bem o português decidi ficar. Depois que eu tive meu filho apareceu a oportunidade de trabalho e resolvi encarar. Quando fui para a entrevista deixei meu filho onde eu morava e quando voltei ele já não estava mais. Depois de 17 anos eu o encontrei”, conta com lágrimas nos olhos.

CRAM - secretária

Secretária de Políticas Públicas para as Mulheres, Silvanda Duarte

O centro oferece atendimento psicossocial, fisioterapia, cuidados com a saúde da mulher e atendimento jurídico.  Para concluir o atendimento, o Cram realiza um trabalho pedagógico voltado para a geração de emprego e renda.

“Nós oferecemos o curso com o intuito de encaminhá-la para o mercado de trabalho como esse que estamos oferecendo hoje”, conta Renata Apostolo coordenadora do Cram.

A secretária de Políticas Públicas para as Mulheres, Silvanda Duarte, explica que um dos focos é a autonomia financeira delas. A maioria das mulheres no curso de francês trabalha com artesanato.

“Elas já comercializam suas peças no entorno da Feira do Artesão e observamos que muitos turistas passam por lá e elas não tem como dialogar com esses turistas para negociar as peças. Quando soubemos que o Cram estaria oferecendo esse curso pensamos que podíamos incluí-las , para que elas tenham outras ferramentas para usar no seu dia-a-dia”, finaliza.

Seles Nafes
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