“Governo me deve”: a história de Paulo Sérgio

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ANDRÉ SILVA

Quem mora na zona norte de Macapá dificilmente deixa de notar uma casa de esquina com a Avenida Luis Lino dos Santos, próximo da Ponte Sérgio Arruda, no Bairro São Lázaro. A fachada do imóvel é escondida por centenas de placas penduradas com a frase: “Governo me deve, dor 24 horas”.

O protesto é de um homem que alega ser vítima de um acidente de trânsito que aconteceu há mais de 30 anos. Ele diz que nunca recebeu qualquer tipo de indenização.

O homem que protesta é Paulo Sérgio Sousa da Silva, de 49 anos. Segundo ele, em uma manhã de 1985, quando estava a caminho do trabalho, foi surpreendido por um carro com identificação do Governo Federal que teria avançado a preferencial na Avenida Marcílio Dias, no Bairro do Laguinho, e se chocado com a moto que ele pilotava.

“Depois de me atropelar me deixaram lá jogado, e até hoje não me deram nem se quer um Anador (analgésico)”, protesta o homem. Assista o vídeo.

O acidente teria causado lesões no tornozelo, joelho, braços e cabeça, onde as dores, de acordo com ele, são constantes. Paulo Sérgio disse que mora no local há 30 anos. Antes do acidente, ele era casado e com a ex-mulher tem um filho maior de idade.

“Depois do acidente eu mudei muito e minha mulher não teve paciência… (faz silêncio). Ela e meu filho foram embora e desde então moro sozinho”, contou emocionado.

Paulo Sérgio garante já tentou inúmeras vezes se aposentar por invalidez, mas todas as tentativas foram frustradas. Ele vive do aluguel de dois pontos comerciais no mesmo local onde mora, e é com a renda de R$ 1 mil que ele sobrevive todos os meses.

Em meio a entrevista, ele convidou a reportagem para entrar em sua casa. Desde a entrada até as paredes do quarto e roupas, tudo o que se vê são os dizeres: “governo me deve, dor 24 horas”. Veja o vídeo.

Dentro da casa ele mostra diversos documentos que comprovam o acidente, como laudos de perícia médica e do local do acidente. Ele diz que mesmo com todas as provas tudo o que recebeu foram R$ 1 mil da seguradora Sul América, e mais nada.

Paulo Sérgio acha que a única maneira de parar com o protesto seria se o governo lhe proporcionasse uma aposentadoria no valor de R$ 2 mil mensais.

Enquanto não consegue a aposentadoria, ele continua a reclamação. As placas e faixas, que antes só ficavam penduradas na casa dele, começaram a tomar o outro lado da rua. O terreno, segundo Paulo Sérgio, é de um amigo.

“Ele me pediu para tomar conta e todos os dias eu o limpo. Aproveitei para ‘observar’ minha dor lá também, para depois eles (governo) dizerem que não sabiam de nada”, falou.

Homem busca reparação do governo após acidente. Fotos: André Silva

Foto mostra cicatriz no corpo

Receituário emitido após acidente

Um dos vizinhos que não quis se identificar disse que a luta do amigo é antiga, e já comoveu toda a vizinhança. Ele torce para um dia poder ver a justiça ser feita.

“Ele é mais um em busca de justiça. A gente chega às vezes até em pensar que ele é doido por causa desse tanto de placa, mas não é não. Eles devem, eles têm que pagar”, desabafou o amigo.

Seles Nafes
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