Xarope de Cumaru e fake news: o que há em comum?

Notícias falsas nas redes sociais são como o suposto medicamento, que era comprado sem saber a sua procedência
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JÚLIO MIRAGAIA

Fake news é como xarope de Cumaru. As notícias falsas que invadem a timeline não se trajam de verdades absolutas em nosso tempo sem uma boa razão: um público que está suscetível a acreditar em qualquer coisa, independente se as fontes da informação são confiáveis ou não.

Antes de ir a fundo na comparação com o xarope de Cumaru, vamos lembrar do que se trata o dito cujo.

Completou dois meses a operação da Polícia Civil que fechou uma fábrica clandestina de xaropes, na zona norte de Macapá. Os produtos eram vendidos em pequenos comércios e em vários pontos da cidade, sendo bastante conhecidos.

Este colunista que vos fala, por exemplo, tinha um frasco do suposto xarope na geladeira. Cheguei a tomar algumas vezes para combater garganta inflamada e gripe.

Suposto xarope era preparado com a mesma fórmula e sem nenhuma condição de higiene. Fotos: Olho de Boto

Para minha desgraça e de uma boa parte dos macapaenses, a polícia descobriu que apesar dos rótulos dos produtos indicarem uso em diferentes tratamentos, todos os xaropes tinham basicamente a mesma fórmula. Pior, a investigação sobre a composição levou a encontrar no xarope cachaça, melaço, conservantes e… unha de gato (?!).

Além da estranha fórmula, foi descoberta ainda a terrível condição de conservação das garrafas, que ficavam de molho em água parada, sem nenhum higiene. Para finalizar a tragédia, os “remédios” eram fabricados ao lado de um banheiro sujo. 

Concluindo, o xarope artesanal que estava na casa de muita gente não era preparado por nenhum laboratório, tampouco com conhecimento tradicional. Uma cidade inteira foi enganada sabe lá por quantos anos.

A facilidade com que uma notícia falsa se propaga impressiona. Imagem: reprodução

É precisamente dessa forma que uma enxurrada de informações falsas inunda a internet. Páginas que arrebatam multidões no Facebook e textos repassados em correntes no Whatsapp se condensam com o noticiário real e os que não checam a veracidade do que leem e repassam acabam sendo enganados e também enganam, mesmo sem querer.

“Ministério da Educação distribuindo 500 mil vibradores”, “Tiririca surpreendendo o mundo político com uma declaração”, “mudança nas datas dos signos”, esses e tantos outros “clássicos” viralizam todos os dias. A propagação de falsas informações pode cair no mero humor, na tímida revolta, porém pode chegar a incitar o ódio e até ao extremo de motivar atentados contra a vida das pessoas. Exemplo disso é que, no ano de 2014, uma mulher foi espancada até a morte no Guarujá-SP, após boatos nas redes sociais de sequestrava crianças para rituais de bruxaria. 

Para evitar os “xaropes de cumarus virtuais”, a checagem do que vai ser propagado é fundamental. Afinal, o que você ganha divulgando algo que não sabe ser real? Aliás, a outra pergunta que devemos fazer é: quem está se dando bem com o fake news? 

Seles Nafes
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