Opinião: Faltou o outro lado

Reportagem do Fantástico demoniza a PM do Amapá, mas "esquece" de ouvir a instituição e a própria população
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Opinião, SELES NAFES

Dizer que o Fantástico sempre presta um desserviço é exagero, histeria. Afinal de contas, não é à toa que se trata da revista eletrônica mais assistida da TV brasileira, capaz de produz grandes reportagens, especialmente sobre a história, comportamento, escândalos políticos e casos policiais.

Mas também é fato que a abordagem de temas extremamente complexos invariavelmente ocorre de maneira rasa. A reportagem deste domingo, que demonizou a Polícia Militar do Amapá como a que mais mata no Brasil, é um exemplo desse perfil.

Vejamos: a reportagem entrevistou a irmã de um bandido morto em confronto com a PM. A fonte, anônima, garantiu que o tiroteio que terminou em morte foi forjado. Mas por que os policiais não foram ouvidos pelo repórter? Lembrando que ouvir o outro lado, na regra do jornalismo, não é facultativo.

Viatura do Bope atingida por criminosos: bala quase acerta policial

Se a PM do Amapá é a que mais mata, será que os bandidos do Amapá são os que mais resistem às prisões? Ou é por que os PMs são mais abnegados no atendimento das ocorrências? Por que não mostrar as viaturas que já foram atingidas nesses tiroteios, os coletes perfurados, sem falar dos PMs que já foram assassinados quando estavam de folga? E foram dois este ano.

As 114 mortes de PMs no Rio de Janeiro são números de uma guerra que ainda não chegou por estas bandas justamente porque a polícia daqui tem agido. Não estamos na Finlândia, mas ainda podemos parar no sinal vermelho, mesmo de madrugada, sem preocupação. E o mérito não é só da PM.

Repórter da Globo em frente à casa onde um criminoso foi morto pela PM, na Ponte do Axé: e os policiais, o que pensam? Foto: Reprodução

A Polícia Civil também consegue resolver a maioria dos casos, graças ao empenho de delegados e agentes que levam o corpo e a mente à exaustão para compensar a falta de investimento nos aparelhos de investigação.

Voltando para a reportagem: por que só um promotor de Justiça foi ouvido? Por que não ouvir parentes de pessoas que foram salvas pela PM? E o mais óbvio: o que a sociedade do Amapá pensa a respeita da PM? Obviamente, a pauta tinha um direcionamento.

É claro que as mortes de criminosos merecem ser investigadas como outra qualquer, mas o tema é complexo demais para ser abordado em menos de dois minutos.

Agora num aspecto a reportagem foi fiel: no Amapá, bandido tem mais chance de morrer.

Seles Nafes
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