Inocente que ficou preso por 4 anos revela que foi salvo por carta no lixo

Antonio Pereira Barbosa Filho foi acusado de ter matado em 1999, Elizelda Freitas da Silva.
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ANDRÉ SILVA

O professor que passou quatro anos preso, suspeito de ter matado Elizelda Freitas da Silva, de 26 anos, no dia 28 de março de 1999, precisou recomeçar a vida longe do Amapá. Em conversa com o portal SELESNAFES.COMAntônio Pereira Barbosa Filho, hoje com 58 anos, revelou que sua inocência começou a ser provada por uma carta que estava no lixo da penitenciária.

Ele deixou o Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen) em 2012, com a vida destruída. Foi demitido depois que a família da vítima promoveu um abaixo assinado na escola pedindo a sua demissão.

‘Professor Barbosa’, como é conhecido, mudou-se do Amapá em 2014, após a morte da sua mãe. Atualmente, ele presta serviço de consultoria empresarial em todo o Brasil, e prefere não informar sua localização para evitar o que ele chama de ‘surpresas desagradáveis’.

O professor disse que mesmo depois de absolvido das acusações, muitos não acreditam em sua inocência. Ele lamenta que nem o Ministério Público Estadual (MP), responsável por sustentar sua acusação, se quer tenha enviado um pedido de desculpas a ele.

21 de junho: Jakson Nepomuceno ouve veredito de 17 anos de reclusão. Foto: Arquivo/SN

No dia 21 de junho deste ano, o pastor evangélico Jackson Nepomuceno foi condenado a 17 anos de prisão pelo homicídio. Elizelda Freitas foi morta com 28 facadas. A defesa do pastor, que está preso no Iapen desde agosto do ano passado, recorre da decisão. 

O Professor Barbosa conversou com o portal SELESNAFES.COM, respondendo a um questionário.

Como foram os anos em que o senhor passou preso?

Não existe pior coisa do que tolher a liberdade de alguém.

Como o senhor se sentia quando tinha um recurso negado?

A pior coisa que existe na vida é alguém te acusar de algo e saber que você é inocente e não admitir isso, e manter uma mentira apenas para dar uma resposta para a sociedade.

Por que, na sua opinião, sua prisão durou tanto tempo?

De acordo com a Justiça amapaense, mantiveram-me preso porque eu era de São Paulo e temiam minha fuga. Por que, pergunto eu, se o rapaz que foi acusado junto comigo era da Guiana Francesa? E a ele deram o direito de responder em liberdade. Então até hoje eu não tenho resposta para essa pergunta.

Como o senhor sentiu-se com a condenação do verdadeiro culpado?

Aliviado, logicamente, pois a prova da minha inocência começou através de mim. Essa cidade inteirinha estava me acusando. Inclusive, a prova contra ele estava indo para o lixo dentro do próprio Iapen. Foi um detento que, fazendo a limpeza da administração, achou a carta que me foi enviada, dentro de um cesto de lixo, pegou e me deu. Inclusive, esta carta foi violada pela administração do Iapen. Até hoje eu sei que muitos nessa cidade acreditam que eu seja culpado.

O que dizia a carta?

Ela acusava o Jackson Nepomuceno, com todos os detalhes. Ela está nos autos do processo.

Quem escreveu a carta para o senhor?

(Risos) Não me faça pergunta difícil. Até hoje eu não sei quem me enviou essa carta. Só sei que por causa dela, minha inocência foi provada.

Qual a primeira coisa que o senhor fez quando saiu da prisão?

Procurei emprego, pois não podia sair da cidade. Quebrei a cara em alguns lugares. Em um dos empregos que arrumei, a família da ‘Nega’ [apelido de Elizelda Freitas] e 90% dos alunos fizeram abaixo assinado para que eu fosse demitido, ou todos trancariam a matrícula. E foi o que aconteceu, fui demitido.

O senhor tem família? Como eles se posicionaram quando estava sob suspeita e preso?

Sim tenho, moram todos em São Paulo. Foram os melhores amigos que tive na vida, pois todos acreditavam na minha inocência.

Edileuza foi morta com 27 facas, no apartamento onde morava. Foto: Arquivo familiar

O senhor pode descrever como foi a noite do dia 28 de março de 1999?

Ela [Elizeuda] me deu uma carona até a boate onde fiquei e ela continuou com a irmã.

Você conhecia o Nepomuceno?

Nunca o vi antes. Só fiquei sabendo que era ele depois que meu advogado fez os levantamentos de acordo com a carta que eu recebi.

Pretende processar o Estado pelo tempo em que o senhor passou preso?

Meu advogado já está cuidando disso.

O senhor ainda é professor?

Hoje não mais. Tenho uma empresa de consultoria empresarial.

Jackson Nepomuceno tinha 20 anos na época do crime

O que o senhor aprendeu com tudo isso?

O quanto a vida é maravilhosa quando você tem a liberdade de ir e vir. Mas o mais importante é que Deus nunca abandona quem está com a verdade.

Onde o senhor mora hoje?

Até hoje muitas pessoas ainda acreditam na minha culpa, e isso porque essa família não teve a hombridade de procurar os meios de comunicação e se redimir perante a sociedade macapaense, do erro que eles cometeram no passado, acusando um inocente. Por essa razão, prefiro evitar surpresas desagradáveis mencionando onde moro. Prefiro dizer que moro no Brasil, pois vou onde o cliente me contratar.

Seles Nafes
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