Depressão: frescura, ou a percepção psicodélica da vida

Um diálogo sincero sobre o halo da alma
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Por RAUL MARECO

Confesso, é deveras complicado escrever acerca de um tema que, absurda e ineptamente (por uma boa parte das pessoas) é motivo de “zoação”. Uma doença que não “enxerga” rico ou pobre, “cor” da pele, idade, religião. Um mal que massacra aproximadamente 350 milhões de pessoas no mundo. É praticamente uma epidemia a “frescura” que alguns mentecaptos consideram. Estes não têm, de longe, a noção de quando a alma fraqueja até doer. Eis a depressão.

A intenção não é chamar a atenção para os doutores da ignorância, obviamente. Na verdade, tampouco é o meu foco, mas, vez em quando, é bom rir da imbecilidade de um grupelho patético. Os diálogos abaixo, são com uma pessoa que se dispôs a contar algumas breves passagens de sua vida com as suas “frescuras”. Tu vais entender ao findar do texto. Boa leitura, com ou sem frescura!

Ian Barrett: Quando raramente saio por aí, o calor queimando até neurônio, apesar da escuridão que, por vezes, arde minha alma, sem ser culpa do Sol, o dia é tão inspirador que as pílulas receitadas tomam a forma do emoji alegre do teclado do celular.

Não tenho o que reclamar, tudo é adaptável, porém, para não perder o humor, é como se a Linha do Equador dividisse meu corpo. É surreal, me sinto como o quadro “O Grito”, de Edvard Munch. 90º de bipolaridade. É!

IB: Ao chegar à minha casa, ávido para imergir na Internet, a cortina do tempo revelou a noite, como habitual. O Sol, que neste dia cultivava um poético halo (círculo ao redor do sol), com uma gentileza ímpar, cedeu seu destaque à Lua. Aprecio a psicodelia e a metáfora para contextualizar o que a Natureza me oferta. Não é porque a alma arde, por vezes, de dor, que a vida deixou de ter as chamas da esperança em seu contorno.

IB: O Facebook é a rede social onde os ataques às minorias são mais evidentes. Um teatro virtual da distopia. Atores disputando a melhor performance, seguindo um roteiro eivado de contextos que me remetem a “1984”, de George Orwell. Como se estivessem sendo observados pelo “Big Brother”, dedilhando impropérios em suas telas, alucinadamente. A bilheteria da hipocrisia deixando mais pobre a quem acha que somos, sempre, ricos de melancolia.

Raul Mareco: Mal, epidemia, doença do século, ou qualquer outra denominação vil que massacra a alma de milhões de seres humanos. Quem lê, logo conclui que está a se tratar de depressão, certo?! Imagina! Quem é depressivo não passa de um ser covarde, que fantasia estar doente alimentando uma ilusão mental, ou seja, é tudo “frescura”! O relato acima, do “fresco”, é mais uma assertiva sobre o que ele percebe, desta vez, em relação à ausência de discernimento de alguns nas redes sociais e na vida real.

IB: Prefiro minhas pílulas mágicas, que comprimem meu cérebro, extraindo serotonina, a estas que os desajuizados tomam, sem controle, que patenteei como “Acefalol”, devido à ausência de neurônios. Afinal, também preciso ter prazer nesse “mercado”. É certo, há pulhas desejosos em criar campos de concentração virtuais.

Não só para depressivos. Gays, pessoas de “cor”, religiosos, mulheres. Há pressa em estigmatizar o ser humano. Tudo, no fim, acelera o processo de depressão. Sejamos o halo do Sol, deixemos a aura solar ser o escudo da alma contra o mal.

RM/IB: O texto não serve ao vitimismo. É uma tentativa de alento a quem enfrenta, independentemente do tempo, a depressão. Ou, a quem convive com um depressivo. Mas, quem é Ian Barrett? IAN Curtis, da banda Joy Division, sofria de depressão. Syd BARRETT, da banda Pink Floyd, sofria de problemas mentais.

Prazer, Raul Mareco/Ian Barrett. Tenho depressão há quase 20 anos e, entre idas e vindas, sofrimentos e alegrias, ainda estou aqui, escrevendo, sobretudo, vivendo… Boa vida a todos.

Raul Mareco, 39, é graduado em Comunicação há 12 anos. Especialista em Jornalismo Gonzo, teórico, cronista, poeta, flamenguista, apreciador de rock n’roll e bossa nova. Facebook: www.facebook.com/raulmareco. Instagram: @raulmareco

Foto de Capa: Seles Nafes

 

Seles Nafes
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