Toda cidade tem locais que são referências. Pode ser um bar, uma padaria, ou uma barbearia. Se as paredes do Salão Itamarati pudessem falar, elas testemunhariam momentos e personalidades bem interessantes da história política do Amapá nos últimos 43 anos. Uma brincadeira sobre o assunto diz que para se atualizar das últimas fofocas, é bom dar uma passadinha no salão onde é possível encontrar do mais simples trabalhador a políticos, empresários, formadores de opinião e pioneiros da cidade. A tradição e a forma amigável de tratar os clientes são os grandes segredos de Adriano, filho do homem que criou o empreendimento mais popular (e talvez o mais antigo) da capital.
Antonio Sampaio, o Maruim, trabalhava como barbeiro no município de Serra do Navio nos anos dourados do manganês. Em 1968, mudou-se para a Rua Leopoldo Machado, que terminava onde hoje está a Escola Marechal Castelo Branco, no bairro do Trem. Dois anos mais tarde, inaugurou o salão em sua própria residência. Preocupado em manter a clientela bem informada, mandou confeccionar cartões que explicavam a mudança e ensinam o endereço. “Comunico aos prezados amigos e fregueses que a partir doa 26 vindouro passarei a exercer minhas atividades profissionais em novo e confortável salão denominado ITAMARATI instalado em minha residência na rua Leopoldo Machado, 3027, entre as Casas Lua e Estrela (nomes de dois armazéns)”, anunciava o cartão distribuído aos montes na cidade.
Ao longo das décadas quase todos os governadores cortaram cabelo no Itamarati. O lugar continua sendo frequentado por pessoas influentes da cidade, mas Adriano acha que há um pouco de exagero quando dizem o salão é uma central de fofocas. “As pessoas ficam bem informadas aqui porque tem televisão e pessoas influentes contando histórias. Mas o pessoal exagera”, diz ele.
Adriano lembra do movimento no salão quando ainda era menino. “Era o único salão que tinha ar condicionado. Era top”, lembra com bom humor. Hoje Adriano gerencia o empreendimento ao lado de barbeiros que se tornaram grandes parceiros, como Chico, que trabalha há 25 anos no salão.
Nos dias atuais o salão (claro que continua com ar condicionado), ganhou uma televisão com canais de notícias, cafezinho e até uma cervejinha no fim de semana. Mas o filho faz questão de preservar as poltronas originais. A mais velha delas foi fabricada em 1957 e tem concreto na base, capaz de aguentar até um cliente com 200 quilos.
Maruim morreu há 13 anos. Apesar dos filhos de Adriano estarem estudando para tomar outros rumos, ele acredita que o salão tradicional não vai fechar as portas, mesmo quando ele se aposentar.