A ausência do filho inspirou a professora Elizabeth Magno a criar o projeto Calçada da Leitura. A iniciativa surgiu em outubro de 2013, quando o filho mais velho foi estudar fora do Amapá. Numa tentativa de amenizar a saudade dele e de tudo que o lembrava, ela decidiu convidar crianças da rua de sua casa, no Buritizal, para ler para elas os livros que ela lia para o filho quando criança.
A atitude da professora tem um valor sentimental, mas sem dúvida é uma grande exemplo de como incentivar a leitura. “Quando meu primogênito Alexandre foi morar longe para fazer faculdade em outro estado, eu senti muita falta dele, apesar da minha filha Moira estar comigo. Eu senti a necessidade de ter crianças por perto. Então decidi usar os livros que lia para ele para ler para outras crianças”, explica Elizabeth.
O projeto foi super aprovado pela meninada da Rua 1º de Maio. Todos os sábados, às 18 horas, a Calçada da Leitura já está limpa e com tapetes, apelidados pelas crianças de tapetes mágicos. Os livros, revistas e gibis guardam vários tipos de conhecimento, mas o que chama atenção é a conservação das obras, algumas com a mesma idade do filho de 18 anos. Outros, inclusive, guardam os primeiros rabiscos dele de Alexandre. “Escolhi a calçada porque via as crianças brincando de pira-esconde, queimada e futebol. Perdi as contas de quantas bolas eu devolvi a eles. Então com a insistência das crianças e a falta do meu filho transformei a calçada de minha casa na Calçada da Leitura, da diversão e do conhecimento”, conta a professora.
São mais de 30 crianças que frequentam a calçada todos os sábados. A maioria tem de oito a 13 anos. Esses leem sozinhos, outros menores que não sabem ler, sentam e ouvem a professora contar as histórias.
O menino Felipe Magno, de 11 anos, diz que adora o encontro aos sábados. “Eu gosto de vir aqui, tem um monte de historinhas bacanas, a professora sempre lê pra gente e ela faz umas caras engraçadas imitando os personagens”.
Cada criança no fim da sessão de leitura escolhe o livro que quer levar para casa, mas no sábado seguinte tem que devolver. “Eu sempre levo vários para ler em casa, gosto de quadrinhos e sempre peço para a tia ler”, conta Flavio da Silva.
O projeto, além de trazer lembranças do primogênito distante, comove a professora. “Lembro-me do primeiro dia em que li a historinha do Lobo e as Cabritas, fiquei emocionada com o Cristian, um menino de uns 3 anos. Após a leitura ele pegou o livro e ficou até o final folheando, vendo os desenhos e se deleitando com a historinha”.
Nos encontros, há voluntários para ler as histórias para as crianças. No término é servido um lanche, ela empresta os livros e já planeja como será o próximo sábado. E nem mesmo a chuva acaba com a alegria. No último sábado, 25, a reunião foi no pátio da casa dela.
A professora aceita doações de livros infantis. Basta entrar em contato com ela pelo facebook na página Calçada da Leitura ou então fazer uma visita no próximo sábado na Rua 1º de maio, entre Barão de Mauá e Hildermar Maia.