João é um substantivo próprio muito comum no Brasil. Tão comum que se dilui no universo das pessoas simples que transitam incólumes pelo chão desse país continente. Nas fotografias anônimas das revistas de viagem é fácil ver os sorrisos peculiares de pessoas a quem o substantivo João cairia perfeitamente bem.
Nas sagas dos Severinos, João Cabral de Melo Neto mostrou bem o que é ser um substantivo comum no Brasil de cercas separando as terras boas de plantar dos Joãos e Severinos que morrem de fome, literalmente.
O nome é uma espécie de talismã que a pessoa carrega consigo por toda vida. É uma proteção, e também a primeira propriedade que a gente adquire na vida. Podemos ter nada na vida, mas carregamos o nome pra aonde formos, como um caramujo carrega sua carapaça.
Se o sujeito não tem um pedaço de chão onde cair morto, tem pelo menos o nome para o qual as pessoas possam direcionar sua piedade e, quem sabe, uma oração.
As coisas todas têm nome, até mesmo as pessoas que são tratadas como coisas. Os nomes escondem texturas, pesos, sonhos, desiquilíbrio, fome, alegria, revolta, brio, raça, ousadia, força, talento, escárnio, desprezo pelos nomes dos outros.
Quando se diz em “em nome do pai…” é como se construíssemos em torno de nós um campo de força mística a nos proteger de todo mau que por ventura queira nos atacar. O nome tem poder porque é palavra. As palavras são o que revolucionam. E ditas por quem tem o nome forte como uma pedra que se atira à opressão, as palavras ganham ouvidos mil e inflamam os olhos de tal forma que todos os nomes se mesclam num só: povo.
E não tem coisa que bote mais medo na vida do que saber que o povo (forte, violento e irracional) está a sua procura para acertar as contas.
Existem nomes de simbologia tão forte que nem se quer é seguro pronunciar. Então as frases ficam assim construídas: “… Se quando aquele, cujo nome não deve ser pronunciado, começa dar seus sinais, oremos com toda fé ao pai eterno e estaremos salvo…”.
A salvo da obrigação de ter um nome ninguém está. Mas o nome apenas não é garantia de que a pessoa seja tratada como sujeito com direito a verbo e predicados.
O nome impresso num pedaço de papel com uma fotografia, cheio de números e assinaturas, chama identidade.
Nome de pobre é sempre chique. De rico é mais simples, mais fácil de guardar.
O nome se parece com o dono, mas ninguém aceitaria ter o nome de Judas ou o nome daquele anjo que foi atirado ao inferno e cujo nome não se deve pronunciar, pois ele pode vir nos atazanar a alma.
Manoel do Vale