Após quase 30 anos do primeiro caso de AIDS registrado no Brasil, a falta de vontade política ainda gera descaso com os soropositivos. Segundo a Associação de Amigas e Mulheres Amapaenses Positivas (AAMAP), uma entidade dedicada ao amparo de pacientes com o vírus, a grande dificuldade é com tratamento dos 2,3 mil pacientes do Amapá, além é claro do próprio preconceito. Dos 430 pacientes que frequentam a associação, poucos são os que decidem revelar a patologia à família.
A entidade funciona há oito anos e quase não tem apoio financeiro do poder público. A única ajuda, no valor de R$2,5 mil mensais, saia dos cofres da Assembleia Legislativa, só que o repasse está atrasado. Segundo a presidente da associação, Márcia Pinheiro, o maior desafio é tratar adequadamente os pacientes. “A maior preocupação é com os nossos soropositivos mais graves, aqueles que estão em estado terminal ou com alguma doença que os deixam muito debilitados”, desabafa.
Por causa do tratamento precário o número de óbitos ultrapassou 30 pessoas no ano passado. A presidente denuncia que as péssimas condições estruturais e profissionais contribuem com o crescente aumento. “A sala onde os pacientes ficam é pequena e eles ficam em contato com pessoas que tem meningite e tuberculose. Os pacientes ficam ainda mais vulneráveis. Sem contar que as vezes eu chego para visita às três da tarde e ninguém comeu ou bebeu água, que condições de tratamento são essas?”, questiona indignada a presidente.
A associação possui uma sede na Avenida Carlos Lins Cortês, no bairro do Infraero II. A presidente conta que a sede acaba servindo de abrigo para pacientes soropositivos que vem do interior do estado fazer tratamento na capital. Diariamente, a sede recebe até 40 pessoas que vem do interior para Macapá. A maioria tem parentes e amigos na cidade, mas para não dar justificativas da doença usam a sede para se esconder. Apesar da procura, o local passa por muitas dificuldades. “Não temos uma alimentação adequada, medicamentos, apoio médico e principalmente psicológico”, afirma Marcia Pinheiro.
Uma paciente que não quis se identificar disse que sofreu preconceito da sua própria família. “Eu morava em Ferreira Gomes, minha família descobriu que era soropositivo, eles me chamaram de doente e que ninguém podia chegar perto de mim. Não tinha para onde ir, até que conheci a Márcia e ela me acolheu e me renovou a esperança de viver”, diz ela.
O combate contra a AIDS é psicológico, também. A própria Márcia conta que se não fosse a força de vontade e a fé em Deus, já tinha perdido a vida. “Não basta a família estar presente, eu vejo muito pacientes que não aceitam a doença assim como no inicio eu não aceitava. É uma luta psicológica mesmo. Hoje vejo vivo sem dificuldade ou drama, mas o preconceito que presencio desanima muito”, explica a presidente, soropositiva há 16 anos.