“Agora só quero provar a minha inocência e condenar as pessoas que organizaram essa agressão contra mim”. As palavras são de José Nilson dos Santos Souza, de 18 anos, o rapaz que confessou ter estuprado um bebê em março deste ano, e protagonizou uma enorme polêmica entre a Polícia Civil e a Politec. Há duas semanas, o Ministério Público desistiu da ação penal depois que o laudo da Politec concluiu que não houve penetração durante o suposto estupro. José Nilton foi libertado e agora diz que quer Justiça.
José Nilton passou um mês preso depois de ser acusado pela ex-companheira de ter estuprado o enteado de um ano de idade. Em um mês de detenção, ele sofreu uma tentativa homicídio e diz ter sido estuprado por outros detentos. No último dia 11, ele foi libertado após o laudo pericial constatar que não houve conjunção carnal contra a criança, motivo que retira a principal acusação. Para ele, a confissão da mãe da criança não passou de uma vingança pelo fim do relacionamento. “Acho que ela tentou se vingar de mim porque nosso relacionamento chegou ao fim. Ela gostava muito de mim e não aceitava a separação”.
Os dois são primos de segundo grau, cresceram juntos e já namoravam há cerca de um ano quando o relacionamento terminou. “Essa foi mais uma mentira dela (ex-companheira de José Nilton). Com a ajuda da mãe, ela quase matou o meu filho. Quando as duas estiveram em um programa de rádio disseram que se conheciam há cerca de três meses, uma mentira, pois como são primos cresceram juntos”, frisou a pescadora Valdilene Pantoja, mãe do rapaz.
A família defende que a ideia de acusar José Nilson partiu da sogra por conta de uma briga de família. “Ainda não sei ao certo o porquê da atitude dela em me acusar, mas estou pedindo que seja chamada para depor novamente, pois falso testemunho é crime”, ressaltou ele.
O Caso
No dia 12 de março a polícia chegou até José Nilson com a acusação que havia sido feita pela mãe da criança. Ele foi preso na casa de uma tia no Bairro Perpétuo Socorro, após fugir de um linchamento de vizinhos. “Fui preso na casa de uma tia após conseguir fugir das pessoas que me aguardavam com pedaços de madeira e terçados na baixada Pará, no bairro Pacoval, onde estava passando uns dias com outra tia. Estava em Macapá, pois precisava fazer o meu alistamento militar. Foi aí que tudo desmoronou na minha vida. Fui preso e quase morri dentro do Iapen”, lembrou José Nilson.
No dia em que foi preso, o jovem confessou o crime afirmando que estava possuído. “Tudo o que disse foi para me salvar, pois quando a Polícia Civil chegou para me prender, me falaram que a única forma de salvar a minha vida era confessando, caso contrário minha família estaria em perigo. Então não pensei muito não, confessei o crime para salvar minha família”, alegou.
José Nilson ainda contou que quando tentou negar as acusações, dentro do Ciosp Pacoval, foi ameaçado com uma arma taser (choque) e agredido pelos policiais que queriam um depoimento assinado.
Agressões
José Nilton descreve o que aconteceu nas primeiras horas no Iapen. “Quando cheguei na ala do Iapen fui mostrado como um troféu aos outros detentos, os agentes diziam que mais um estuprador de criança havia sido preso. Já os detentos começavam a me ameaçar dizendo que minha hora estava chegando e que iriam me estuprar para que eu sentisse a sensação”.
Dois dias após a prisão, José Nilton diz ter sido estuprado por seis detentos que conseguiram quebrar a parede de sua cela. “Pensei que fosse morrer naquele dia. Quando eu ouvi que estavam usando uma marreta para quebrar a parede da cela comecei a rezar. Eles entraram com pedras e chaves de fendas em mãos e começaram a me bater. Ainda conseguir correr saindo pelo buraco aberto. Me escondi em um depósito, mas logo eles me encontraram e me engasgaram até eu perder a consciência”.
O principal algoz durante as agressões teria sido um detento conhecido como “Amaldiçoado”, que teria lhe desferido vários golpes com uma chave de fenda. Os demais detentos teriam participaram do estupro. “Foi um momento difícil, que só Deus mesmo para me manter vivo naquele clima”.
Após a agressão José foi enviado para o Centro de Custódia localizado no Bairro Novo Horizonte, onde ficou até a última sexta quando foi liberado pelas autoridades.
Indenização
O delegado que fez a prisão em flagrante (Daniel Mascarenhas) e a delegada (Elza Nogueira) que depois conduziu a investigação e indiciou José Nilton, continuam afirmando que ele é culpado, apesar do laudo da Politec ter concluído que não houve a penetração. “Na minha opinião não resta dúvida porque a criança tinha outros sintomas. Além disso, ele confessou, e não foi por tortura, que ele ainda ficou uns dois minutos em cima da criança”, comentou neste sábado, 18, a delegada Elza Nogueira.
Sem a denúncia do Ministério Público, José Nilton não vai a julgamento. Agora ele disse que vai levar o caso à Comissão de Direitos Humanos da OAB. Pretende processar o Estado e pedir uma indenização.