Amigos e parentes se reuniram em uma funerária no Bairro Santa Rita para homenagear o universitário Raoni Almeida Ramos, de 20 anos, que faleceu no início da manhã de segunda-feira, 28, após 25 dias internado no Hospital de Emergência. O garoto, conhecido pelo exemplo de superação, lutava pela vida depois de ser emboscado pelo próprio primo irritado por uma discussão boba que terminou em briga no dia da final do Campeonato Carioca entre Flamengo e Vasco. Apesar do drama e do sofrimento da família, a história de Raoni deixa uma série de lições a serem compreendidas.
Os amigos na funerária, a maioria da faculdade particular onde ele cursava o quinto semestre de Direito graças a uma bolsa do governo federal, lembravam o rapaz de sorriso fácil que cativava as pessoas. Raoni estudava muito e sempre dizia a todos que pretendia garantir que sua mãe tivesse uma vida melhor no futuro assim começasse a advogar.
Raoni caminhava cerca de 20 km todos os dias (entre ida e volta) para assistir as aulas, um esforço que rendeu palmas na chegada de seu corpo para o velório. Apesar das homenagens, o sentimento era de perda. O irmão mais novo desconsolado gritava pelo retorno do irmão, colocado com zelo no caixão. Maria de Nazaré, conhecida como dona Nana, também não se suportava em pé para dar o último adeus ao filho.
Enquanto isso, os amigos procuravam consolar a família lembrando que o rapaz foi e sempre será um exemplo de vida para qualquer pessoa da comunidade rural Nossa Senhora dos Remédios, próximo a BR-210. “Às vezes a vida não é justa, e tragédias acontecem”, avaliou Alexsandro Souza, amigo da vítima. “Eu perdi o meu parceiro de discotecagem”, lamentou o amigo Lean da Conceição, quando indagado sobre o que mais lembrava sobre Raoni.
De acordo com o amigo, o que Raoni mais gostava era se passar por DJ em um bar próximo da residência onde morava. “Nós passávamos horas tocando no bar, usando o computador, brincando de DJ. Agora o que fica é um vazio sobre a comunidade que sempre se inspirava com a dedicação do Raoni”, acrescentou Lean.
Os amigos lembram que nunca tinham visto qualquer tipo de desentendimento com os primos que explique a tragédia. “No sábado antes do ocorrido estávamos todos fazendo carvão e disputando tiro ao alvo com uma arma de ar comprimido. Os dois eram muito próximos, viviam juntos, como carne e unha, por isso ainda não conseguimos explicar”, frisou Alexsandro.
No atestado de óbito de Raoni consta falência múltipla dos órgãos. O rapaz teve que passar por uma cirurgia de emergência para retirar um rim e 42 caroços de chumbo alojados no intestino, pulmões e costas. Desde então, vinha travando um briga pela vida.
Ele precisaria fazer outra cirurgia de transplante do outro rim que tinha parado de funcionar. “A cirurgia era necessária, mas não tínhamos como fazer pois ele não aguentaria passar pelos exames pré-operatórios para verificar a gravidade dos estragos do tiro”, lamentou Nana, a mãe.
O primo continua foragido. A família acredita que ele foi para o Piauí para se esconder na casa do pai. Raoni será sepultado nesta terça-feira, 29. Se não tivesse morrido, sua história deveria ser sobre como o esforço pode mudar o destino de alguém criado na pobreza. No caso de Raoni, a intolerância e a violência não deixaram essa história ser contada.