O Mercado Central, um dos símbolos da história de Macapá, foi inaugurado no dia 13 de setembro de 1953, uma data emblemática, já que neste dia se comemora o aniversário de criação do Território Federal do Amapá. O espaço será revitalizado com algumas adaptações, para ser transformado em patrimônio cultural do município.
De acordo com Antônio Macedo, presidente da Associação Amigos do Mercado Central, o espaço tem importância para quem mora em Macapá, e que não justificaria um tombamento nacional. “O Mercado não tem uma importância histórica para o Brasil. A valorização do espaço é local. Isso é importante para a história e a cultura amapaense. Por isso defendemos o tombamento municipal do Mercado”.
O governador Janary Gentil Nunes e o prefeito Claudomiro de Moraes, inauguraram o Mercado Central com a proposta de ser um espaço para a comercialização dos produtos da roça que eram desembarcados no Trapiche Eliezer Levy. Na época, o trapiche era o principal local de desembarque em Macapá. Famílias japonesas vieram para a capital trabalhar no mercado, junto com os macapaenses.
Dentro do mercado ainda são comercializados basicamente gêneros alimentícios, só que muitos já estão prontos para consumo, as refeições. Maria de Lourdes Rangel, 49 anos, trabalha há um ano em um dos 37 boxes do mercado. “Isso tem uma importância enorme para todos nós. Minha renda familiar vem toda daqui. Esperamos que com a reforma o espaço se torne mais atrativo”. Alzenira Castro, de 40 anos, trabalha há seis anos no mercado e fala das dificuldades do lugar. “Aqui é um lugar bom para trabalhar, mas não há investimento público aqui. O banheiro só é limpo porque uma senhora. O esgoto às vezes transborda. Só lembram da gente no aniversário do mercado”.
Cordolina Cardoso, de 61 anos, é quem cuida da limpeza do espaço interno do Mercado. Segundo ela, há um ano os banheiros eram muito sujos. “Isso aqui estava imundo. Querem transformar esse lugar, mas não cuidam do que já temos aqui. Eu limpo, mas sou obrigada a cobrar (taxa) para as pessoas usarem. É assim que ganho dinheiro e compro todo o material de limpeza”.
A vida de Marco Antônio de Moraes, de 58 anos, se confunde com a história do mercado. O pai trabalhou no Mercado Central e passou o empreendimento para ele. Hoje, Marco Antonio tem um bar que se chama “Amigos do Mercado”, e considera o lugar tradicional em Macapá. “Muitas pessoas sempre vêm aqui porque antes não tinham onde se reunir. Fiz muitos amigos aqui”, contou Marco Antonio, que trabalha no mercado há 42 anos.
No espaço externo do mercado existem diversos empreendimentos como lojas, restaurantes até salão de beleza. Dona Zenaide Aragão da Silva, de 43 anos, trabalha há um ano vendendo comida regional. Ela diz que não existe lugar melhor para trabalhar. “O espaço é desvalorizado pelos nossos gestores, mas as pessoas compensam. É daqui que tiro o sustento da minha família. Foi aqui que comecei a valorizar a música amapaense e a nossa cultura”.
Quem frequenta o espaço aprova a revitalização. “Há 15 anos eu venho aqui. Minha mulher faz compra no centro e eu bebo minha cerveja e um caldinho. É um espaço que deve ser valorizado, seria bom uma revitalização para melhorar o ambiente”, acredita Manuel Pereira.
Outro “point” conhecido no Mercado Central e o Bar du Pedro, que foi inaugurado junto com o mercado. O bar pertencia ao seu Pedro que veio do Rio Grande Norte morar no Amapá na década de 1950. Fez muitos amigos pela sua personalidade carismática e brincalhona. Quando faleceu, na década de 1990, seu filho Luiz Gonzaga, de 53 anos, assumiu o negocio da família. “Isso aqui é a nossa casa. Me criei aqui em cima desse balcão. Meu pai ensinou o valor da cultura local e eu amo meu trabalho. Precisa sim de revitalização, de banheiros melhores, trocar telhas quebradas e de um encanamento mais moderno. Além disso, tem muito rato por aqui. Já perdi mercadorias por causa disso. Mas tenho esperança que melhorem o espaço e que todos continuem aqui”.
O projeto de revitalização do Mercado Central vai contar com ampliação do espaço externo e lojas laterais. Para isso, será necessário realocar no mínimo 70 comerciantes de dentro e fora do Mercado. Segundo o presidente da Associação Amigos do Mercado Central, os comerciantes não querem sair de lá. “Queremos sim melhora no espaço, mas a Prefeitura quer colocar os outros no Shopping Popular. Só que esse shopping é utopia. Nunca sai. Queremos ficar aqui”, afirmou Antônio Macedo.