Em 1965, Celino da Paixão, na época com 26 anos, deixou a mulher e quatro filhos em Macapá para trabalhar em Belém, no estado do Pará. Desde então, ele nunca retornou. Seus filhos, dois homens e duas mulheres, cresceram sem um pai para dividir as alegrias da vida. Ele ainda chegou a acompanhar os três primeiros anos de três filhos, mas a caçula ainda estava no ventre da mãe quando ele partiu. Na manhã desta sexta-feira, 22, mais de meio século século depois, os quatro filhos tiveram o reconhecimento da paternidade. Foi durante mais uma mobilização do Programa Pai Legal, do Tribunal de Justiça do Amapá.
Os filhos de Celino foram criados pela mãe com todo preconceito da época. Eles sabiam que tinham pai, só não tinham o seu sobrenome. Em 2002, os filhos Maria das Dores Videira Pinto, Jorge Videira Pinto e Joelson Videira Pinto, decidiram procurar o pai em Belém para conhecê-lo. “Minha mãe dizia que a gente tinha pai, mas nossa infância foi difícil. Na escola que eu estudava zombavam de mim porque na minha certidão estava a palavra “ausente” no lugar do nome do meu pai”, contou emocionada a filha mais velha, Maria das Dores Videira Pinto, de 55 anos.
Em datas comemorativas, a falta do pai era maior. “No Dia dos Pais, Natal e Ano Novo sentíamos ainda mais a falta dele. Uma cena que eu lembro, é que na escola todos os alunos eram deixados e levados pelos pais. No nosso caso, a mamãe é que fazia isso. Às vezes doía muito e dava até raiva”, declarou o segundo filho, Jorge Videira Pinto, de 53 anos.
A iniciativa do reconhecimento da paternidade foi do próprio Celino. Hoje, com 75 anos, ele admite que nunca procurou os filhos. Mas quando foi procurado por eles, concordou em reconhecê-los. “Na época eu fui embora para trabalhar e perdi contato com a família. O tempo passou e não fiz questão de voltar. Hoje eu reconheço meus filhos e descobri que sou avô e bisavô. A família está completa”, comentou Celino.
O filho Joelson Videira Pinto, de 51 anos contou um pouco das dificuldades de ser criado por uma mãe solteira. “Não foi fácil. Minha mãe tinha que trabalhar e fazer papel de pai e mãe. A gente sentia muita falta na infância. Durante a adolescência já conseguíamos aceitar melhor. Hoje esse reconhecimento significa um ato de amor dele, já que foi ele que iniciou isso”, explicou.
Quando a família se reencontrou em 2002 houve muita alegria, mas também muitos questionamentos. Passaram alguns anos até que veio a ideia do reconhecimento. “A minha mãe nos criou e nunca ouvimos ela falar mau dele. Quando ele deu a ideia de nos dar seu nome foi muito emocionante. Naquele momento eu tinha uma pessoa pra chamar de pai”, destacou a filha caçula, Maria Sueli Videira Pinto, 50 anos
A partir desta manhã a família será unida pela “Paixão”, sobrenome do pai. Eles fizeram parte dos 45 reconhecimentos voluntários de paternidade do Programa Pai Legal e Pai Presente da Justiça do Amapá que neste ano recebeu 133 pedidos para reconhecimento de paternidade.
O mutirão tem como objetivo estimular e divulgar a conciliação, evitando conflitos e mais processos no poder judiciário. “Nós promovemos o exercício básico da família que é o reconhecimento dos seus próprios filhos. Além é claro, de garantir por meio desse mutirão os direitos das crianças”, afirmou a desembargadora Stella Ramos, coordenadora dos Programas Pai Legal e Pai Presente.
O Projeto existe há 6 anos. Interessados em buscar o reconhecimento devem procurar o cartório e apresentar: certidão de nascimento do (a) filho (a) a ser reconhecido (original e cópia); documento pessoal do pai (CI, CPF, Certidão de Nascimento, comprovante de Residência) original e cópia.