Reportagem: Cássia Lima
Há 20 anos, existe no Amapá a farmácia de fitoterápicos do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), localizada dentro do Museu Sacaca. Os medicamentos são produzidos a partir do princípio ativo de plantas da Amazônia, livres de contaminação por agrotóxicos. A partir de 2015, a farmácia ganhará uma fábrica para produção em escala, possibilitando a entrada de pelo menos três medicamentos no Sistema único de Saúde (SUS). Hoje, a procura pelos medicamentos do Iepa já é maior do que a oferta.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa ), todo medicamento fitoterápico deve ser produzido em laboratório para então ser autorizado e comercializado. Não são considerados fitoterápicos: chás, partes ou pó de plantas medicinais, homeopatia, florais, medicamentos manipulados e própolis.
A farmacêutica do Iepa, Cléia Lamarão, acredita na importância dos fitoterápicos na rede pública de saúde. “Por terem princípios ativos específicos, esses medicamentos garantem maior eficácia, rapidez e qualidade de recuperação de doenças. Isso colabora para a saúde pública e fomenta o mercado natural medicinal”.
Muitas pessoas não sabem, mas no Brasil, o Ministério da Saúde tornou disponível a utilização de medicamentos fitoterápicos na saúde pública em 2007. As prefeituras brasileiras podem adquirir, por exemplo, a espinheira-santa, indicada para tratamento de úlceras e gastrites. Outro fitoterápico, o guaco, é usado para os sintomas da gripe. Em 2009, foram incluídos à lista de fitoterápicos utilizados pelo SUS a alcachofra, aroeira, cáscara sagrada, garra-do-diabo, isoflavona da soja e unha-de-gato. No ano que vem, a copaíba, jucá e a babosa, serão distribuídos de forma gratuita pelo SUS no Amapá. Esses três medicamentos foram aprovados pelo Formulário Fitoterápico da Farmacopeia brasileira, órgão máximo no Brasil.
De acordo com a farmacêutica, Leila Cristina Pires, há um sério problema de produção comparado à procura. “Há demanda está crescendo 15% ao mês, e quase 100% ao ano. Temos que fazer o controle de estoque e produção. Ultimamente estamos vendendo no máximo 4 medicamentos por pessoa, para que todos possam ter acesso”, ponderou.
O problema de produção e demanda deve ser resolvido em breve, já que o Iepa conseguiu a doação de R$ 7 milhões do Fundo Amazônico. O dinheiro será usado na construção de uma indústria para produção em escala de medicamentos fitoterápicos. “Esse recurso é para pesquisa e implantação de uma indústria que será atrás do Sarah Kubitschek, na JK. As pessoas terão acesso gratuito a esses medicamentos em todo o estado. O objetivo maior é implantar esses medicamentos em nível nacional”, adiantou o diretor-presidente do Iepa, Augusto Oliveira.
Atualmente, a farmácia do Iepa vende mais de 2.000 unidades de medicamentos por mês. Os mais comercializados são feitos da casca da sucuúba, tintura de jacareúba, xarope de urucum e júca, e a pomada de cabacena e eucalipto. Os valores comercializados são custeados, ou seja, não custam o real valor de produção. Todos, se fossem comercializados ao preço de produção, custariam mais de R$ 12. Mas, nem chegam a isso.
Os xaropes ajudam no tratamento da tosse, garganta e como expectorantes, além da asma e bronquite. O preço, R$ 8. Pomadas de Muirapuamã custam R$ 6 e funcionam como cicatrizantes de cortes, feridas e até cirurgias. Sabonetes de júca e copaíba custam R$ 3 e auxiliam na limpeza de pele, controle de oleosidade e combate acnes.
Gel de babosa e júca ajudam a combater dores e inchaços, sendo vendidos por R$ 6. Spray de copaíba e gengibre custa R$ 8 e é muito procurado para desinflamação da garganta e limpeza de vias respiratórias durante a gripe. A pomada de eucalipto e cabacinha, que é utilizada para controle de rinites e sinusites, custa R$ 6. Tintura de casca doce e sucuúba custa R$ 8 e são utilizados para infecções estomacais e combate a úlceras e gastrites. Tem ainda a tintura de jacareúba, que ajuda no controle do diabetes. Custa R$ 8.
Muitas pessoas procuram a farmácia como única alternativa de remédios eficazes e baratos. O mototaxista José de Oliveira foi à farmácia para comprar o colutório de copaíba e gengibre. “Meu filho tomou de tudo quanto foi remédio. Aí a médica recomendou esse spray da farmácia do Iepa, ele melhorou em dias. Em casa passamos a usar só medicamentos daqui”.
O boliviano Valmir Lameira, conta que é tradição de sua família usar medicamentos naturais e desde que veio para o Brasil, compra remédios na farmácia do Iepa. “Moro no Amapá há mais de 10 anos. Desde que descobrimos essa farmácia, só compramos aqui. A recuperação é mais rápida”, diz ele, que dessa vez comprou a casca doce de sucuúba.
A farmácia do Iepa possui mais de 20 medicamentos fitoterápicos. Funciona de segunda a sexta-feira, das 8 horas às 11h30 e das 14 horas às 17h30. A agente de trânsito Rosalva Brasil, de 46 anos, correu após o fim de seu expediente para comprar a pomada de muirapuamã. “Minha amiga recomendou. Comprei para minha mãe que possui diabetes e tem dificuldade de cicatrizar feridas. Já havia comprado outras coisas aqui. Todas funcionam e são bem baratas”.
A indústria deve ter inicio de construção apenas em 2015, por causa da regularização e leis eleitorais que proíbem obras com financiamento público. A expectativa é que a primeira indústria oficial de fitoterápicos da Amazônia tenha capacidade de produção para todo o estado e por meio dela ocorra a regularização de outros medicamentos.