Foi remarcado o julgamento dos três oficiais do Corpo de Bombeiros acusados de negligência no curso de formação de sargento ocorrido em 2009. Na ocasião, o cabo Edson Ferreira Brito morreu afogado enquanto fazia uma das provas de resistência na comunidade do Curralinho, zona rural de Macapá. Nesta manhã, 18, houve a 2ª audiência de instrução na 3ª Vara Criminal de Auditoria Militar. Sete testemunhas foram ouvidas e o depoimento dos três oficiais foi remarcado para o julgamento, ainda sem data prevista.
A audiência ocorreu na 3ª Vara Criminal do Fórum de Macapá, especializada em casos que envolvem militares. A morte do cabo ocorreu em novembro de 2009 e gerou debates acerca de provas militares em curso de formação. Segundo o depoimento das testemunhas, o comando do Corpo de Bombeiros não havia dado autorização para a prova ser aplicada. “O tenente perguntou sobre a prova, mas o comando geral não autorizou. No entanto, mesmo assim nós fizemos. Disseram que seria nossa prova final antes da formação”, contou a sargento Josane, na época cabo da mesma equipe que a vítima estava.
Familiares do cabo F. Brito, como a vítima era conhecida, afirmam que houve negligência dos superiores, abuso de poder e desobediência à ordem dada pelo comando geral. “O meu irmão e os outros que participaram do curso ficaram sem dormir a noite toda, não comeram direito e estavam muito cansados. Não havia ordem para que eles fossem submetidos a essa prova. A gente espera que todos sejam responsabilizados pela lei, já que a prova nem deveria ser feita e não havia o mínimo de suporte necessário”, disse o irmão da vítima, Jessé Brito da Costa.
O curso de formação contou com aplicação do estágio de selva, que são atividades submetidas aos prestadores e tem o objetivo de ensinar, adequar e despertar o resgate de vítimas em ambientes de selva. Segundo consta no processo, os participantes do curso deveriam atravessar uma parte do rio de 200 metros segurando um cabo e vestidos com roupas de selva.
Ao contrário do que foi informado anteriormente, o cabo não chegou a ficar desaparecido por quatro horas. O promotor Eraldo Zampar detalhou o processo. “Consta que os companheiros o viram cansados, mas o cabo não fez queixa a ninguém em momento algum. Dois cabos passaram a frente dele e continuaram o trajeto. Quando estavam na metade do rio, um deles olhou para trás e viu o cabo F. Brito engolindo água e ‘revirando os olhos’. Vale ressaltar que no ponto que ele se afogou ficava submerso 1 metro e 69 centímetros”, disse.
Além da etapa do curso não ser oficial, consta nos altos do processo que os superiores não providenciaram o mínimo de equipamentos para o caso de socorro aos aspirantes a sargentos, o que pode ter resultado na morte de Edson. “Não havia ambulância, nem tinha uma equipe. Só conseguimos tirar ele da água com a ajuda de um morador que viu tudo e veio remando sua canoa para ajudar. Nossa lancha estava sem motor”, destacou outra testemunha que preferiu não ser identificada.
Segundo o processo, o cabo estava desacordado e devido à demora no socorro e o fato de ele ter engolido água, já foi levado à terra sem vida. A família diz que o cabo estava muito feliz pelo curso e que já tinha planos para a família. “Ele deixou dois filhos, muitas lembranças e sonhos a realizar. Queremos que os culpados sejam punidos pela lei e que haja justiça pela vida do meu tio”, disse a sobrinha, Jorivana Costa.
No próximo julgamento serão ouvidos dois coronéis e um major. Eles respondem por negligência, abuso de poder e tortura. Se forem condenados, os réus podem pegar de seis a nove anos de prisão, pena que deve ser menor já que os indiciados são militares.