Está marcado para a próxima segunda-feira, 18, o julgamento de três oficias do Corpo de Bombeiros acusados de negligência e excessos no curso de formação de sargentos ocorrido em 2009, na comunidade do Curralinho, na zona rural de Macapá. Na ocasião, o cabo Edson Ferreira Brito morreu afogado enquanto fazia uma das provas de resistência.
No julgamento, todas as partes devem ser ouvidas na 3ª Vara Criminal do Fórum de Macapá, que recebe casos que envolvem militares. Os três acusados já poderão sair condenados. A audiência deveria ter ocorrido no mês passado, mas a falta de uma testemunha provocou o cancelamento.
A morte teve grande destaque na impressa local, e levantou um debate em torno das provas a que os militares são submetidos em cursos de formação. Para a família da vítima, houve negligência dos superiores na hora da aplicação do estágio de selva, que são atividades submetidas aos prestadores do curso de formação, com o intuito de ensinar, aprimorar, adequar e despertar para a reflexão as práticas inerentes ao resgate de vítimas em ambiente de selva.
Segundo a irmã da vítima, Ivani Brito, os superiores estão sendo acusados por negligência, pois não teriam autorização do Comando Geral para realizar a etapa de sobrevivência na localidade do Curralinho. “Os prestadores do concurso já tinham passado por uma etapa semelhante na Orla do Município de Santana, fato que tirava a necessidade dessa última etapa, que foi descrita pelos companheiros de cursos como a mais pesada e acabou com a vida do meu irmão”, contou.
A família destaca ainda que nos altos do processo consta que os superiores decidiram fazer a etapa e não providenciaram o mínimo de opções de socorro aos aspirantes a sargento, o que pode ter resultado na morte de Edson, já que não havia equipamento necessário para salvá-lo a tempo.
Os depoimentos recolhidos apontam que os oficiais passaram um grande período expostos ao sol e sem poder se alimentar corretamente, o que levou a exaustão. “Nós conversamos com um amigo que prestou o curso junto com o Edson, e ele narrou que não tiveram tempo de se alimentar, o que provocou um mal estar geral. Por conta disso o meu irmão desmaiou e acabou sendo arrastado pela correnteza”, acrescentou.
Após desmaiar e ser arrastado pela correnteza, pois não estava com os equipamentos necessários de segurança, o cabo foi encontrado quatro horas depois, já sem vida. Os fatos levam a acusação a apontar inclusive a prática de tortura, o que vai de encontro com o artigo 5º da Constituição Federal. Edson Brito deixou dois filhos, que hoje tem 6 e 9 anos.