O amor é um ponto de interrogação gigante entregue à uma exclamação completamente apaixonada. Juntos passam a noite em reticências e reticências à rua, caminham entre aspas, para se destacar na multidão de palavras soltas, atentos às frases feitas, aos superlativos escondidos sobre a capa de chuva de textos que têm a aparência de senhores sérios e bem comportados.
O amor é sim esse ponto de interrogação displicente que fica se perguntando a toda hora: “oh, que fazer com todo esse sentimento”, enquanto se entrega a um ponto de interrogação pulsante, que diz carinhoso: “mexe, meu bem… Assim… isso… coisa boa meu Deus!”
O amor está longe de ser uma frase aberta num período composto; tá mais para um advérbio de modo, ou de status no facebooquês.
Fulano mudou seu status de relacionamento para “em um relacionamento sério”, “casou-se com…” ou simplesmente “solteiro e na pista”.
O amor é essa coisa maravilhosa que a língua nos dá. E também os dedos, dentes, cabelos, toda a pele, os pés e todo sexo que advém do corpo e, que, para o corpo do outro é canalizado.
Corpo de texto, rimado no gingado do desejo, do suor e do apreço.
O amor é todo poesia. Nada muito afeito à prosa. Também é enigmático e cheio de duplos sentidos:
– Meu bem, acho que nosso amor subiu no telhado.
– Que nada, minha querida, foi só uma puladinha de cerca, sem gravidade.
O amor, quando fala, é língua que quebra caroço.
E é todo cheio de alvoroços.
O amor é artigo fino, que seja bem dito.
Mas também pode ser resenha escrita em papel de embrulhar prego.