Um preso de dentro do Iapen (foto acima) recebeu quase R$ 750 mil de mais de 3 mil pessoas de quatro municípios, é o que aponta uma investigação da Policia Civil de Macapá que durou nove meses, e que teve os detalhes revelados nesta quinta-feira, 18. Odacyr Reis Lima, de 44 anos, preso por estelionato, “vendia” por telefone contratos administrativos ao preço de R$ 250. O escritório funcionava na própria cela dele, considerada de segurança máxima. Apesar da complexidade dos golpes, a polícia garante que ele agia sozinho.
Odacyr Lima responde a 8 processos por estelionato. De acordo com a polícia, ele começou a fazer contato com as vítimas em janeiro deste ano. Por telefone, ele dizia que era um funcionário do alto escalão do governo precisando de pessoas para trabalhar na campanha de reeleição do PSB. “É um cara que tem uma lábia absurda, e usa isso para convencer as pessoas e ganhar dinheiro. Chegamos a ele através de uma denúncia. Temos provas técnicas da quebra de sigilo telefônico de que todas as vítimas falaram com ele por telefone e ele estava o tempo todo dentro do Iapen usando o ano eleitoral para extorquir dinheiro”, ressaltou o delegado Leandro Totino, responsável pela investigação.
Depois de nove meses de investigação, o resultado é surpreendente. Pessoas dos municípios de Mazagão, Macapá, Vitória do Jari e Laranjal do Jari, receberam ligações do detento e acreditaram na história do criminoso. Pensando em “se dar bem”, essas pessoas pagaram para ter contratos administrativos em órgãos do governo como as secretarias de Saúde, Educação, Obras, e até na Assembleia Legislativa. “Eu paguei a ele, assim como minha mãe e irmãos. Ele dizia que iríamos conseguir um contrato no governo de até R$ 1,8 mil”, declarou uma vítima que denunciou o golpista e preferiu se identificar apenas como Juliana.
O estelionatário teria convencido até um gerente de banco também por telefone. O objetivo era aumentar o número de vítimas dando um ar de legalidade ao processo. “Ele me ligou e disse que muitas pessoas iriam abrir conta para trabalhar por contrato administrativo na campanha do governo. Eu abri mais de 100 contas pessoalmente (onde vítimas acreditavam que o salário seria depositado), mas não sabia que era golpe. Perdi meu emprego de gerente porque as contas não eram usadas”, relatou o ex-gerente do banco, que se identificou apenas como Tasso.
Liberdade na prisão
Apesar de estar numa cela de “segurança máxima”, Odayr Lima agia livremente e com razoável estrutura. Tinha 15 telefones celulares. Depois de convencer as vítimas de que elas iriam trabalhar na campanha recebendo salário do governo, ele as orientava a tirar cópias de documentos pessoais que deveriam ser entregues dentro de um envelope num ciber café.
O detendo pagou ao dono do ciber para que ele recebesse documentos. Então, 4 motoboys, também pagos, pegavam os envelopes e levavam para a casa da esposa do detento em Santana. “Ele fazia todo o esquema e enganava todo mundo, inclusive, motoboys, empresários e até delegados foram enganados pela lábia dele. O dinheiro foi usado pela família para compra de eletrodomésticos e a construção de uma casa na Fazendinha”, contou o delegado.
Odacyr Lima teve muito tempo para bolar o golpe. Ele está preso há setes anos no Iapen, mas agora nega o crime. Ele será indiciado pela 9ª vez por estelionato. Deve ficar mais tempo preso, o que não quer dizer muita coisa se ainda tiver um celular ao alcance da mão.