Certa vez, o pai de Carlos Daniel Cardoso Pereira, de sete anos, prometeu que só deixaria o cabelo crescer quando o filho conseguisse se curar do câncer. Uma promessa que Agenilson Pereira, de 38 anos, pretende manter pelo resto da vida, mesmo após a morte do menino ocorrida no último dia 21 de abril. “Meu cabelo nunca mais crescerá”, disse ele nesta quinta-feira, 23, durante o velório de Carlos na quadra da Igreja Jesus de Nazaré. A despedida do menino, que cativava todos e mobilizou uma grande campanha nas redes sociais, acabou virando também um grito de indignação pela forma como o Amapá trata seus doentes de câncer, ou melhor, não trata.
O sofrimento e o vazio deixado por Carlos dá força para que Agenilson encare uma nova luta: o direito da pessoa com câncer. “A luta de meu filho representa as necessidades de muitas pessoas que hoje lutam contra essa doença e contra a irresponsabilidade do poder público que não faz o mínimo, quando pelo menos poderia facilitar a liberação de assistência às famílias”, criticou.
Para a família, com a morte do garoto de sorriso fácil e que gostava de jogar futebol e videogame, fica uma sensação de que a luta não pode acabar, um sentimento baseado num dos sonhos de Carlos que queria muito fazer o tratamento em Macapá perto da família, dos amiguinhos e da escola.
“Nós últimos dias, Carlos perguntava muito sobre quando seria construído em Macapá um hospital de tratamento do câncer. Ele queria retornar para nossa casa e lutar contra a doença, próximo aos entes queridos. Uma resposta que não pude dar, mas que poderei me esforçar para que se torne realidade enquanto eu estiver forças para lutar. A luta agora é por outras crianças que ainda serão acometidas por essa doença devastadora”, contou o pai.
Uma luta idêntica à que já é travada pelo Instituto do Câncer Joel Magalhães, ong que dá assistência a pessoas em tratamento.
“O Carlos é mais uma das pessoas que perdeu a batalha contra essa doença, mas que será um símbolo nessa luta, por representar uma maioria social que fica a mercê dessa luta muitas vezes desumana, pois a pessoa com câncer muitas vezes não tem a menor condição financeira de lutar contra a doença, uma realidade que não é observada pelo poder público. A morte de Carlos é um tapa na cara dos governantes”, avaliou o coordenador do instituto, padre Paulo Matias.
Carlos Daniel morreu no dia do aniversário de cinco anos de criação do Ijoma. “Nesses últimos cinco anos a realidade não vem melhorando, como muitos pensam. E serve de exemplo para que a sociedade veja que a realidade não é tão bonita como muitos demonstram e que todos, independentemente de estar com a doença ou não, devem lutar pelo próximo como ensina a Palavra de Deus”, ensinou o padre, que celebrou a tradicional Missa da Cura com a presença do corpo do menino e da família dele.
Depois da Missa da Cura o velório continuará na casa dos avós de Carlos. O sepultamento de está marcado para às 9 horas desta sexta-feira, 24, no cemitério São José, Bairro Santa Rita.
Reportagem e fotos: Anderson Calandrini