Cultura: Louceiras do Maruanum, entre mitos e lendas

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André Silva –

Uma tradição amapaense centenária está em exposição no Instituto de Pesquisas do Amapá (Iepa). São as peças de barro feitas pelas mãos das louceiras do Maruanum, uma localidade que fica a 58 quilômetros de Macapá. A exposição faz parte de uma tese de mestrado de um aluno da Universidade Federal do Pará (UFPA). As louças estão sendo comercializadas, uma boa oportunidade para quem sempre teve vontade de ter uma panela de barro especial.

As louças do Maruanum fazem parte de uma tradição que passa de geração para geração. Mulheres que aprenderam com suas mães a fazerem panelas, formas de bolo, alguidás, lamparinas, potes e muitos outros utensílios, todos de barro. Mas não é apenas a técnica que é secularizada, as lendas em torno do barro também continuam em evidência na comunidade.

As louças são uma tradição que passa de geração a geração

As louças são uma tradição que passa de geração a geração

Ninguém sabe ao certo como essa prática começou. Pesquisadores acreditam que a produção iniciou por pura necessidade. A falta de recursos para a compra de utensílios domésticos teria levado as mulheres da comunidade do Maruanum a usar o barro para fazerem suas louças. Os moradores da região dizem que seus ancestrais aprenderam a fazer esse trabalho com os índios.

Ao todo são 12 mulheres que fazem parte de uma associação dentro da comunidade. Dona Marciana, de 75 anos, diz que aprendeu o ofício com uma comadre dela.

“Eu aprendi quando tinha 22 anos. Para mim é um meio de sustento, mas esse mês a produção está muito baixa por falta de matéria prima”, contou a artesã. Segundo ela, o barro fica escasso em certas épocas do ano, e por isso a produção cai.

Dona Marciana aprendeu o ofício com uma comadre dela

Dona Marciana aprendeu o ofício com uma comadre dela

Outro material usado pelas louceiras é o Jutaí. Uma casca retirada do tronco da arvore de jatobá. Ela passa por um processo de queima. O carvão resultado dessa queima é que é usado. Misturado ao barro, resulta em uma liga elástica que facilita o trabalho da artesã que pode dar a forma que desejar a essa mistura.

O responsável pela exposição, o pesquisador Fabrício Ferreira, conta que a ideia surgiu em 2010, mas o primeiro encontro com a louceiras aconteceu em 2012, e desde então venho trabalhando com elas.

Pesquisador teve o primeiro contato com as louceiras em 2012

Pesquisador Fabrício Ferreira teve o primeiro contato com as louceiras em 2012

“Eu ingressei no programa de pós-graduação em antropologia na UFPA em 2014, e esse é o desdobramento do meu trabalho de pesquisa”, enfatiza. “Os moradores mais antigos dizem que aprenderam com os índios. Várias figuras espirituais circulam pelo meio da cultura deles, como por exemplo, a “mãe do barro”, figura que protege o barro”, explicou.

A exposição está aberta ao público no Núcleo de Pesquisa Arqueológica do IEPA, que fica na Avenida Feliciano Coelho, de segunda a sexta-feira das 9 horas às 17h30min.

Fotos: André Silva e Agência Amapá

 

Seles Nafes
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