É lindo ver esse lado do povo amazônida. Um sentimento espontâneo, movido pela comiseração de um povo esquecido. Registrei algumas imagens que permanecerão em minha memória, tamanho o sentido que carregam em si.
Tirei essas fotos no trajeto de navio de Belém a Macapá. Pude perceber um sentimento que anda meio esquecido em nossos tempos hodiernos: a solidariedade. Quando o navio passa por essas pequenas comunidades, que margeiam os meandros caudalosos do Rio Amazonas, centenas de ribeirinhos vem em direção a ele, esperar, o que para muitos deles é a esperança do alimento, da vestimenta, da ajuda e da providência, que chega dentro de saquinhos plásticos atirados pelos passageiros ao rio em direção a eles.
Vi muitas crianças acenando, como que pedindo ajuda, gesticulando numa linguagem universal, pedindo comida, em um gesto de misericórdia, e remando rápido ao ver o retorno dos seus pedidos atendidos.
Cenas que comovem quem nunca viu igual ato de solidariedade. É inesquecível lembrar dos passageiros, a maior parte deles também de baixo poder aquisitivo, ajudando no que podem e compartilhando dentro daquilo que se pode fazer naquele momento.
No semblante registrado no clique flagrancial, percebem-se rostos anônimos, esquecidos e deixados à sorte pela inoperância do poder público. O navio entra no rio estreito e logo à frente já se podem ver dezenas de canoas com os ribeirinhos, à espera da única alternativa que lhe resta naquele ermo lugar: a piedade alheia dos passageiros.
Vi uma multidão de passageiros que, com essa finalidade, traziam alimentos, roupas, utensílios, e tantos outros objetos, e que embalavam com todo o cuidado, um por um, centenas de saquinhos plásticos, exclusivamente para aquele momento.
Esse sentimento contraria o reinante egoísmo egocêntrico do nosso habitual espaço urbano. A ausência desse sentimento de empatia é o que tem nos levado a relacionamentos sociais esvaziados do verdadeiro espírito de fraternidade, mas o que vi naqueles simples gestos marcou profundamente minha vida e me fez repensar sobre o real sentido da máxima expressa há mais de dois mil anos atrás por Jesus Cristo: “Amar o próximo como a si mesmo”.
Esse é um sentimento que deve ser multiplicado, por meio dessas fotos, desses gestos, desse povo, em lugares onde o poder público não chegou, e onde há brasileiros esquecidos, anônimos, muitos deles sequer formalmente existentes, mas que na firmeza de sua persistência, continuam sobrevivendo nessas pequenas vilas e comunidades ribeirinhas da Amazônia.
Passe adiante esse texto e essas imagens para multiplicar e estimular esse sentimento de solidariedade que melhor se pode ver entre os mais humildes e entre os poucos corações misericordiosos.