O policial civil Jedielson Oliveira, de 36 anos, é um dos cinco especialistas em crimes cibernéticos da polícia do Amapá. Para ser mais especifico, ele é autoridade em rastreamento de aparelhos celulares e tablets. Só este ano, ele já conseguiu recuperar 75 celulares roubados. Seu histórico de desvendar crimes por meio da tecnologia é altamente reconhecido pela polícia.
Jedielson trabalha na Polícia Civil há oito anos e é especialista em história. Iniciou a carreira seis anos atrás na Delegacia Especializada em Roubos, mas logo foi transferido para a 2ª Delegacia de Polícia, localizada no Ciosp do Pacoval. Lá ele recuperou, em 2014, mais de 90 aparelhos telefônicos, a maioria smartphones. É dele o mérito de que 80% dos celulares roubados em Macapá são recuperados.
“É muito importante o trabalho do Jedielson nessa delegacia. Por mais sofisticado que seja o celular, ele consegue encontrar. No caso Portela, do seu Mário Ivo, ele foi fundamental na localização dos criminosos. Esse menino vale ouro”, elogiou o delegado Júlio César Alves, titular da 2ª DP.
Objetivo e prestativo, Jedielson conversou com o Site SelesNafes.Com para falar do seu trabalho, e como as pessoas podem se proteger contra crimes cibernéticos e informações sigilosas nos aparelhos telefônicos.
SelesNafes.Com: Roubos e furtos de celulares, infelizmente, se tornaram comuns. Qual é o foco principal nas investigações?
Jedielson Oliveira: É verdade que esse crime tem crescido em todo o Brasil. Temos casos de pessoas que simulam compras, usam perfil falso (fake), roubam ou furtam celulares, fazem ameaça de número privado, e atuam por meio das redes sociais. Mas a boa notícia é que, na maioria dos casos, temos como encontrá-los. Nosso foco são os roubos, furtos e assaltos em que o alvo são aparelhos celulares e tablets.
Qual a principal técnica para se recuperar um aparelho celular?
Temos diversas, mas não cabe salientar todas. Uma das principais é o IMEI (sigla em inglês que significa Identificador Internacional de Internet Móvel). Ele é uma série de 15 números que fica atrás da bateria no celular. Quanto mais chips tiver um celular, mais IMEIs ele terá, e isso facilita nosso trabalho. Essa série de números é sigilosa das empresas telefônicas. Pedimos autorização para rastreá-la. Mediante isso, começamos nosso trabalho de investigação.
É possível rastrear um telefone mesmo desligado?
Não. Nem desligado e nem off line, porque não conseguimos identificar o IMEI. Só podemos rastrear com o aparelho ligado. Existe uma prática corriqueira no Amapá. Os criminosos aprenderam que o celular no modo off line não pode ser rastreado. Então, eles roubam o aparelho e usam nesse modo. Na verdade, o celular só serve para armazenar fotos, vídeos e músicas, mas não pode ser usado para ligações.
O GPS ajuda a rastrear celulares e tablets?
Não. Não ajuda em coisíssima alguma. As pessoas têm esse mito de que pelo GPS podemos encontrar qualquer coisa. Não é verdade. O GPS tem dois problemas: primeiro, ele é móvel e tem um raio de 30 metros de circunferência naquele perímetro indicado. Segundo, ele pode ser desligado pelo celular. Para a investigação o GPS é totalmente descartável.
Colocar senhas em números e anagramas no celular ajuda na proteção contra criminosos?
Hoje as pessoas têm a falsa impressão de segurança. Anagrama e senha, seja qual for, não protege telefone algum. Dependendo do aparelho, temos um comando de desbloqueio que os técnicos e investigadores conhecem. A minha orientação, inclusive, é que as pessoas não usem esses bloqueios porque inviabilizam aplicativos de rastreio de celulares.
Por que ter senha no celular inviabiliza o rastreamento?
Porque se um criminoso pegar seu celular, e for esperto, ele vai ficar frustrado com as senhas e fará um master resert (termo em inglês para um comando que desbloqueia aparelhos, mesmo contendo senhas ou anagramas). Com isso ele vai ter acesso a tudo que você tem no celular. Ele pode apagar todos os seus dados e dificultar nosso trabalho. Deixar sem senha o aparelho, pode parecer bobagem, mas é mais fácil para a polícia localizar. Não posso entrar em mais detalhes.
Existem aplicativos que podem ajudar o usuário a proteger suas informações pessoais contra roubos e furtos?
Sim, temos vários. O que mais eu recomendo é o Psafe total. Ele é um gerenciador que possui antifurto, acelerador e antivírus. Nele podemos armazenar suas informações nas nuvens e fazer o link com outro número de telefone. Por exemplo, eu instalo no meu celular e cadastro como link no celular do meu irmão. Quando o bandido tentar gerenciar as contas e não possuir sua senha, o outro aparelho recebe mensagem do roubo, furto ou da tentativa de invasão.
Você já investigou e rastreou mais de 100 aparelhos entre tablets e celulares. Me conta um caso que te chamou atenção?
Tem muitos casos. O interessante é que a maioria desses casos acontece no seio familiar. Um cidadão prestou queixa aqui (2ª DP), porque seu celular havia sido roubado durante o velório de um primo. Investigamos, e descobrimos que o telefone estava com um sobrinho dele. Tem muitos casos simples, mas tem outros que são mais difíceis de encontrar.
Como foi que você colaborou no caso Portela?
Na época, conseguimos descobrir que um dos criminosos estava com o celular do seu Mário Ivo. Apesar do aparelho ser ligado e desligado o tempo todo, conseguimos os dados da telefonia. Com essas informações localizamos o esconderijo do homem que matou o idoso. Foi esse criminoso que mostrou à polícia a localização do corpo. Nessa situação, o serviço de inteligência foi fundamental, porque a partir daí é que conseguimos descobrir outros fatos e os envolvidos no crime.
Se furtarem um aparelho telefônico e levarem para outro Estado é possível recuperar?
Sim. Já encontramos celulares roubados em Macapá, mas também recuperamos aparelhos em outros municípios, como Laranjal do Jari, Oiapoque e municípios do Pará. Em outro país poderíamos até encontrar, mas demoraria por causa do código internacional.
Existe uma demanda muito grande para esse crime no Amapá?
O engraçado é que esse número tem uma pequena elevação no fim de semana. O que acontece: muitas pessoas bebem, saem e não sabem onde deixaram o celular. Registram BO, e depois encontramos celular no silencioso em baixo de bancos de carro, sofás e cantos que a pessoa nem lembra que passou. É engraçado, mas essa displicência causa um transtorno enorme para a polícia, que poderia estar investigando casos mais graves.
Qual é o tempo médio para se rastrear e recuperar um aparelho?
JO: Isso varia muito. Depende do prazo que as operadoras nos passam informações, mas posso te dizer que é entre duas semanas a um mês e meio. A boa notícia é que a polícia tem muitos mecanismos para encontrar celulares, e isso facilita apreensão de outro objetos roubados, assim como os criminosos. É um processo lento, mas estamos combatendo o crime com ajuda da tecnologia.