Sempre que a noite chega, os moradores de bem do Conjunto Mucajá, no Bairro do Beirol, não dormem em paz como a maioria das pessoas, por uma simples e aterrorizante razão. É cada vez mais comum a invasão de apartamentos por assaltantes que moram no próprio conjunto. Eles passam o dia dormindo, e as madrugadas apavorando as família. Muitas famílias já foram embora deixando para trás o lar que tanto desejaram. Outros alimentam o desejo de vingança. O Mucajá é um barril de pólvora.
“Só essa semana já foram 5 apartamentos invadidos. Eles entram portando armas de fogo, apontando na cabeça , ameaçando, amarrando, e batendo nas vítimas. São muito agressivos”, relata um morador.
Uma das vítimas foi surpreendida em seu apartamento no 3º andar. Os assaltantes escalaram o prédio por fora, entraram pela janela da sala, e abriram a porta para mais 2 comparsas, todos encapuzados e exigindo dinheiro, joias, qualquer pertence de valor.
Neste caso, um dos criminosos apontou a arma para a cabeça dos filhos da proprietária. A vítima reconheceu um dos bandidos, identificado como “Davizinho”. Ela denunciou o criminoso e ele foi preso.
Menor de idade, Davizinho foi levado para o Cesein, que fica bem ao lado do Mucajá. Uma semana depois, ele fugiu com outros menores e não perdeu tempo. Voltou para o conjunto e mandou recados ameaçadores para a vítima que teve a coragem de denunciá-lo. Aterrorizada e se sentindo desprotegida, a dona de casa abandonou o apartamento.
“Nós cidadãos de bem temos que ir embora porque não nos sentimos seguras dentro da própria casa”, desabafou ela na despedida do apartamento.
Outra família inteira foi vítima dos mesmos bandidos. Eles agiram da mesma forma: escalaram até o segundo andar, entraram pela janela e abriram a porta para mais dois bandidos. Os cinco moradores foram amarrados e os criminosos iniciaram uma sessão de tortura com coronhadas, socos e chutes. Queriam joias e dinheiro.
Um dos moradores é professor, mas os assaltantes pensavam que se tratava de um pequeno empresário. O bando fugiu levando o que queria, e deixou todos amarrados e amordaçados no banheiro. Antes de saírem, no entanto, os assaltantes deixaram claro que voltariam para matar todos caso chamassem a polícia. Outra família que foi obrigada a abandonar o Mucajá.
Em outro caso absurdo, os bandidos invadiram um apartamento usando uma chave-mestra. A mãe estava no banheiro enquanto o filho e mais dois amigos faziam um trabalho de faculdade no quarto. Os garotos foram obrigados a tirar as roupas e foram amarrados.
Os assaltantes levaram notebook, celulares, dinheiro, sapatos, roupas, mochilas, e queriam mais. Exigiram que a proprietária, ex-revendedora de joias, entregasse mercadorias a eles. Como ela não tinha mais nenhum produto, os assaltantes espancaram o filho na frente dela.
Os amigos reagiram para proteger o rapaz, mas não deu certo. Apanharam até desmaiar. Só foram socorridos depois que uma tia, desconfiada por todos os celulares estarem desligados, decidiu ir até o apartamento. A família também decidiu fechar o apartamento e deixar o Mucajá.
A indignação não tem feito produzido apenas o abandono dos apartamentos, tem também alimentado nos moradores o perigoso desejo de fazer justiça com as próprias mãos.
“Por isso estamos pedimos providências para o poder público antes que aconteça o pior”, comenta o morador. “A cada dia que passa a revolta é maior, ou vai morrer bandido, ou um cidadão de bem”, sentencia.