ANDRÉ SILVA –
A mortandade de peixes no Rio Araguari, no município de Ferreira Gomes (a 135 quilômetros de Macapá), pode ser maior do que o que foi divulgado por empresa Ferreira Gomes Energia. Moradores da região afirmam que em apenas dois dias recolheram mais de duas toneladas de peixes mortos, enquanto que a empresa relatou a morte de aproximadamente 100 quilos. Pescadores e e moradores prestaram depoimento nesta terça-feira, 24, na Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Civil.
Além da morte de peixes, um problema de saúde pública pode estar ocorrendo na cidade. Crescem os relatos de pessoas que moram nas áreas ribeirinhas do Araguari que estão procurando atendimento nas unidades básicas de saúde do município se queixando de dores abdominais e diarreia. A causa, segundo eles, seria a água do rio contaminada por peixes mortos.
Na Delegacia de Meio Ambiente (Dema), os moradores denunciaram os problemas sociais que surgiram após o acidente causado pela usina hidrelétrica no último dia 13. O pescador Valdeli Oliveira, 46 anos, por exemplo, contou ao delegado Sávio Pinto, titular da Dema, que é pai de oito filhos, e que dependia da pesca para alimentar a família.
“Agora eu faço bico de pedreiro para arranjar a comida dos meus filhos. Essa empresa só trouxe atraso para a nossa comunidade. Eu estive recolhendo os peixes mortos na sexta-feira e no sábado. Contabilizamos duas toneladas, mas todo dia aparecem mais”, afirmou o pescador.
Segundo o presidente da Associação dos Atingidos por Barragens, Moroni Guimarães, que também esteve na Dema, a empresa contratou seis pessoas para recolherem os peixes. Segundo ele, o trabalho é feito todos os dias ao amanhecer.
“Eles fazem isso no horário em que ninguém está vendo. Acredito que seja para esconder o que não pode mais ser escondido”, informou Guimarães ao delegado.
Sávio Pinto afirmou que vai investigar a fundo a questão e juntar provas suficientes para que os culpados sejam levados a justiça.
“A extinção do fenômeno da pororoca já é um grande dano ambiental e agora a morte de peixes. Vamos chegar aos responsáveis, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. Agora, nós vamos juntar as provas e entregar ao Ministério Público que é o titular da ação penal. Quando um inquérito é bem feito se torna impossível que o culpado não seja julgado e punido”, pontuou o delegado.
A empresa foi notificada de uma multa no valor de R$ 30 milhões aplicada pelo Instituto do Meio Ambiente do Amapá (Imap) no ultimo dia 20. O delegado não informou quando pretende intimar os representantes da empresa.