Se você anda com frequência pelas ruas do Centro de Macapá com certeza já a viu andando por aí, especialmente perto do Hospital de Emergência. Figura de baixa estatura, com a pele queimada pelo sol, assim como os cabelos sempre despenteados e secos. O andar é difícil porque ela puxa uma das pernas. Ela também pede dinheiro e às vezes faz atos obscenos, o que inclusive lhe deixou famosa e até lhe transformou em motivo de brincadeiras.
O que muita gente não sabe é que por trás de Marinéia Santos Santana, muito conhecida como “Big Big”, de 37 anos, existe uma história de sofrimento, vítima de uma cadeia de acontecimentos que mudou para sempre sua vida, e a transformou numa moradora de rua. Uma vítima.
O repórter André Silva vasculhou a história dessa personagem, conversando com parentes e amigos da família, e descobriu que aos 15 anos um crime mudou para sempre a vida dela. Marinéia passou por uma tentativa de estupro, e foi esfaqueada pelo criminoso.
Outros episódios a marcaram. Um aborto provocado por uma queda da escada fez com que ela perdesse o filho aos 19 anos. Logo após a perda veio o rompimento com o noivo, o que mexeu muito com a estrutura psicológica dela. Mas a vida desabou mesmo com a morte da mãe, a quem era muito apegada.
Marinéia também morou em Caiena, na Guiana Francesa, onde passou boa parte da infância e onde também aprendeu a falar francês fluentemente.
O relato do repórter
Recuperada da facada durante a tentativa de estupro, numa manhã de sol a pino, Marinéia resolveu ir até um bairro próximo ao dela pedalando sua bicicleta. Na rotatória da Rua Jovino Dinoá, no Bairro do Araxá, uma kombi a atingiu em cheio por trás. O choque foi muito forte. Ela caiu, bateu com a cabeça no asfalto, e, segundo a família, teve uma pequena perda de massa encefálica.
Após um ano de recuperação, ela passou a ter atitudes estranhas. Começou a sair de casa e demorar para voltar.
“Ela passava dois, três dias na rua, começou a dormir nas paradas de ônibus. Quando ela aparecia era toda suja, fedendo. Nossa mãe estava muito doente nessa época “, conta Edna Santana, irmã de Marinéia.
Um ano depois, ela sofreu outro acidente, um atropelamento, desta vez comprometendo o movimento de uma das pernas.
O vício
Após a morte da mãe, Marinéia passou a não voltar mais para casa. Passava meses sem dar notícias à família. “Quando ela aparecia em casa esperava a gente se distrair, pegava uma sacola e levava um monte de coisas para vender. Foi quando nós percebemos que ela estava usando drogas. Ela começou a usar depois do segundo acidente”, diz a irmã.
Nessa época, Marinéia conheceu um rapaz com quem namorou, e foi ele que disse para a família que a decisão de começar a usar drogas teria sido dela, por curiosidade.
“Já levei ela para alguns centros de tratamento, mas ela sempre fugia. A Marinéia sabe perfeitamente distinguir as coisas, ela fala francês e reconhece os parentes mais próximos. O que falta pra minha irmã é um tratamento numa clínica que possa suprir as necessidades dela”.
A família
Há vinte anos Marinéia vaga pelas ruas da capital, e hoje vive do que pede na rua. Tem uma filha de 11 anos que criada pela irmã, Edna.
“De vez em quando ela pergunta pela filha. Nós já contamos para a menina uma parte dessa história “, revela a irmã.
“Nós sabemos que a Marinéia tem jeito, mas a droga atrapalha muito. O que precisamos é de um lugar para ela, já a internamos duas vezes, uma no Monte Tabor e outra no Oiapoque em um centro que tem lá, mas nas duas vezes ela não suportou. Precisamos de uma clínica que trate a mente e o corpo dela”, conclui Edna.