ANDRÉ SILVA E CÁSSIA LIMA
Os primeiros médicos formados no Amapá enfrentam o martírio do desemprego. É isso mesmo. Por incrível que pareça, pelo menos 20 dos 24 profissionais que se formaram no ano passado pela Universidade Federal do Amapá (Unifap) continuam sem emprego. Isso, segundo o Sindicato dos Médicos do Amapá, é atual realidade em todo o Brasil, que historicamente se ressentiu da falta de médicos.
Esses profissionais são conhecidos como clínicos gerais ou generalistas. Ao passar pelos seis anos da academia, o estudante ainda tem que se especializar. Tanto a rede pública quanto a rede particular têm maior necessidade por especialistas. Mas a iniciativa do governo federal em contratar médicos cubanos, segundo o sindicato, tem tirado a vaga de profissionais brasileiros em várias partes do país, e agora no Amapá.
“O que ocorreu foi a substituição de médicos que atuavam na saúde da família, por outros profissionais do programa Mais Médicos, do governo federal. Os médicos que foram substituídos se sentiram prejudicados com isso”, explicou a presidente do Sindicato dos Médicos do Amapá (Sindmed), Helen Melo.
No país, segundo a presidente do Sindmed, existe má distribuição dos profissionais de saúde. Enquanto em uma determinada região tem um médico para 300 habitantes, como é o caso de Brasília, aqui no Amapá esse número chega a um médico para cada três mil habitantes.
Dos médicos formados pela Unifap, apenas um garantiu vaga no Amapá e foi um contrato temporário com a prefeitura do município de Porto Grande, a 105 quilômetros de Macapá. Outros três profissionais estão trabalhando no Estado do Maranhão, de onde são oriundos. Os demais esperam chamada para o município de Macapá e o Estado por meio de contrato emergencial que tem previsão de sair em maio.
“Não temos certeza de trabalho. Só temos esperança de que o Estado e a prefeitura abram contratação para nós trabalharmos. Sabemos que a falta é para especialistas, mas tem uma pequena carência de clínicos gerais. O problema é que temos dificuldade de acesso por causa do decreto do governo federal e do programa Mais Médicos”, destacou um recém-formado que não quis se identificar.
As reclamações chegaram ao Sindicato dos Médicos e ao Conselho Regional de Medicina (CRM), que já providenciaram um documento pedindo que o município aproveite esses profissionais. A saída, segundo Helen Melo, seria a não renovação dos contratos com os profissionais do programa Mais Médicos, já que os formados aqui no Amapá atuariam da mesma forma, ou seja, na saúde básica.
O programa Mais Médicos já mandou para o Amapá cerca de 130 profissionais que atuam na saúde básica em vários municípios. Mesmo assim, o Estado tem apenas 550 profissionais para mais de 700 mil habitantes. Ou seja, faltam médicos para a população.