MANOEL DO VALE
O ator e diretor da Companhia Viva de Teatro, Guiga Melo, começou 2016 recebendo o título de “Mestre de Teatro de Bonecos do Noredeste”, reconhecimento conferido pelo Insituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Ministério da Cultura. Guiga mora no Amapá e faz parte de um seleto grupo de artistas espalhados por várias regiões do país escolhidos para receber a honraria.
Em março do ano passado, Iphan registrou o Teatro Popular do Nordeste como patrimônio imaterial do Brasil. E em setembro, abriu o edital Prêmio Teatro de Bonecos Popular do Nordeste – Mamulengo, Babau, João Redondo e Cassimiro, para localizar e premiar esses artistas que vivem espalhados pelo Brasil e que contribuem com seu saber e técnicas para a divulgação e manutenção de uma das expressões culturais mais autênticas do país.
Guiga Melo é uma figura tradicional do teatro do improviso, que mistura atores e bonecos, que há pelo menos 30 anos nos teatros e praças do estado.
Nascido em Caruaru, Pernambuco, em 1958, Guiga Melo, ou melhor, Mestre Guiga, reúne as características principais que completam o mestre bonequeiro tradicional, ofício que veem do barro de sua terra natal.
“Desde criança que a minha relação com o boneco é muito forte. Eu sou de uma comunidade onde as crianças brincavam com os bonecos de barro de Vitalino. Eu lembro que quando eu ia nas feiras de rua, a gente parava muito tempo para assistir o teatro de bonecos. E foi daí que fui me interessando pelo teatro de bonecos, que está presente na minha vida até hoje”, revela.
O mestre bonequeiro conduz a Cia. Viva de Teatro, e já coleciona editais importantes como o Prêmio Mira Muniz de Teatro e a participação no documentário Simãosinho Sonhador, vencedor do edital Doctv IV, exibido em rede nacional em 2009.
Hoje, junto com a atriz e pedagoga Paiody Rodrigues, Mestre Guiga desenvolve projetos em escolas públicas do estado, levando a magia dos bonecos para abordar temas recorrentes no cotidiano na vida escolar.
Um trabalho importante, que, além de garantir o sustento do casal por todos esses anos, tem contribuído para o desenvolvimento de crianças das escolas da periferia quanto a questões de preconceito e discriminação social.
A arte de trabalhar com teatro de bonecos exige imaginação e um senso estético bem particular, e essencialmente lúdico. Bem dosadas essas duas qualidades podem gerar produções sofisticadas, que chegam a envolver dezenas de profissionais e mais algumas toneladas de equipamentos.
No caso de Mestre Guiga, e da maioria dos 40 mestres selecionados no edital do Iphan, a produção se resume a uma mala cheia de bonecos e uma panada – estrutura feita de canos de pvc e tecido preto com que se monta o palco dos bonecos, e ajuda de uma atriz (às vezes uma trupe que chega a quatro pessoas) na interação com o público.
O teatro de bonecos é uma arte ao mesmo tempo nobre e popular, que nasceu para o entretenimento e a educação humana no antigo oriente com o teatro de sombras para dali se espalhar pela Europa e Américas no período das grandes navegações, aportando no nordeste brasileiro, onde se criou subvertendo a ordem junto com a literatura de cordel nas feiras populares, fazendo a crítica social e de costumes.
Guiga está entre os 40 homenageados, a maioria dos estados do Nordeste, que irão receber, além do reconhecimento, R$ 20 mil em dinheiro.
O prêmio é importante porque revela a diversidade de saberes, locais e nacionais, que formam a cultura amapaense.