CÁSSIA LIMA
Você que tem mais de 25 anos, pergunte ao seu pai ou mãe se eles foram ao Cabaret Safari. Se a resposta for positiva continue lendo esta reportagem porque o Cabaret foi a sensação das noites amapaenses nas décadas de 80 a 90. O lugar tinha um leque tão grande de atrações que ia de sexo explícito ao vivo à Reginaldo Rossi.
Reginaldo Rossi, inclusive, marcou o início do declínio do Cabaret.
O Cabaret Safari foi criado pelo empresário Raul Souza Silva, que nasceu na cidade de Vigia, estado do Pará, em 21 de julho de 1954. Ele ajudava o pai no final dos anos 80 com o Cine Monak, que inclusive chegou ao Amapá com o nome de Cine Veneza.
Raul chegou em julho de 1974 para estudar e morar em Macapá. Se formou em contabilidade pelo Colégio Amapaense em 1975. Um ano depois casou, no dia 18 de dezembro de 1976 com a recém-formada professora Janete Silva. Juntos, eles criaram o Cabaret que por 12 anos foi a diversão das noites e fins de semana de muitos amapaenses.
Por lá passaram nomes como o cantor Giliard, Chico Recarey, Roberto Vilar, Mauro Cota, Pinduca, Roberta Miranda e Reginaldo Rossi. Confira a história de sucesso que depois de alguns anos terminou com muitos prejuízos.
Como surgiu o Cabaret Safari?
Raul Silva: Eu e Janete alugamos uma antiga casa de show chamada Star Club, no Laguinho. E começamos a fazer shows de cantores do Amapá e depois começamos a trazer artistas do Pará também. Vimos que o público gostava e ninguém fazia igual aqui no estado. Foi um sucesso. Tudo altamente profissional.
Como foi montar o Cabaret aqui no Amapá?
Um dia eu fui a Recife e conheci um empresário de lá que me falou das casas de shows. Na época eu estava saindo do ramo de cinema, e vi a casa de show uma nova atração. O nome Cabaret Safari foi de um filme que assisti com a Janete. Reformamos a casa e apostamos tudo que tínhamos no Cabaret. Foi difícil, mas logo no primeiro mês colhemos os resultamos e só fomos aprimorando.
É verdade que lá se apresentava de tudo?
É sim, tínhamos desde show de cantores, travestis, shows de strip tease e até sexo explícito em uma cama montada na casa. Mas tudo ensaiado mesmo. O público ia ao delírio gritando, mas nunca houve desrespeito. Naquela época as pessoas bebiam e dançavam sem fazer baderna.
Quais os artistas famosos passaram pelo Cabaret?
Olha, foram 12 anos de muito sucesso com apresentações como: Elimar Santos, Diana Ricther, Rita Cadilac , Latino, Pinduca, Roberto Vilar e Reginaldo Rossi.
A que você atribui o sucesso do Cabaret?
Ah, com certeza as atrações e ao profissionalismo dos profissionais. Era tudo inédito no Amapá. A casa lotava com 2 mil pessoas. Pais e mães de famílias que sabiam que o lugar era seguro e a diversão era garantida. Eu e Janete sempre nos preocupamos em dar o melhor ao público e fazemos isso até hoje.
É verdade que alguns artistas davam muita dor de cabeça?
Sim, sim. O pior problema foi com o cantor Reginaldo Rossi que não conseguiu fazer o show com o Cabaret lotado. Foi o maior prejuízo. Na verdade ele chegou a Macapá pela tarde, fomos passear na cidade e o deixei no hotel Macapá. Quando voltei à noite ele estava se sentindo mal e começou a correr o boato que ele estava de porre, mas não era verdade. Na hora do show ele subiu no palco cantou 4 músicas e pediu pra sair porque não aguentava de dor no estômago. O público ficou revoltado e saiu do Cabaret sem pagar nada. Daí começou a decadência.
Como foi a semana seguinte após a decepção do Reginaldo Rossi?
Raul Silva: Ficamos decepcionados, mas ainda assim tentamos reconquistar o público trazendo o show da Roberta Miranda. Muita gente foi, mas não era a metade do nosso público e o pior, antes do fim do show faltou energia e mais uma vez o público foi embora e ficamos com o prejuízo. Não tínhamos como pagar as dívidas e repassamos o Cabaret para o empresário Paraíba porque ele tinha com manter. Nós precisamos pagar ainda nossos empresários, garçons e outros funcionários que mantínhamos na época. Foi um grande prejuízo que vencemos.
Você montaria hoje outro Cabaret?
Raul Silva: Não. De jeito nenhum. Acho que ainda existe um grande público, mas é bem mais fragmentado devido à quantidade de cantores de hoje. E o brega, sensação da época, hoje é coisa aparentemente do passado. Logo depois que passamos o Cabaret investimos na carreira e no programa da Janete e amamos fazer isso até hoje.
Era exatamente sobre isso que ia te perguntar. Como você define seu relacionamento com a Janete?
Raul Silva: Olha, a Janete é uma companheira de todas as horas, momentos e lugares. Lembro que me ajudava no cinema da mesma forma que me ajudou com o Cabaret e me ajuda até hoje. Em dezembro desse ano vamos completar 40 anos de casados.
Durante esse tempo adotamos uma menina chamada Ericka e depois tivemos nossos três filhos: Raul Júnior, John e Jack Silva. Ela é uma guerreira, batalhadora, me ajudou em todos os momentos que passamos juntos. Ela tem um brilho no olhar e uma vontade de viver que me cativou e me apaixona até hoje.