Marabaishow, da tradição ao pop, sem perder a batida perfeita

Estilo criado por Carlos Piru, incorporou elementos da cultura pop
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MANOEL DO VALE

Uma coisa que os negros do Amapá sabem fazer bem é valorizar sua história; manter o sorriso empreendedor que os fez atravessar séculos de uma vida sofrida, até chegar ao status de ser a etnia que dá o tom e as cores das principais expressões da cultura popular tucuju: o marabaixo, batuque e o samba.

Um desses empreendedores da cultura amapaense, quando era menino tinha fama de ser muito do enxerido, daí ganhou o apelido de Peru.

O apelido cresceu com ele, que já trocou o enxerimento pela agitação cultural e substituiu o “e” do Peru para “i”, enfatizando a fonética popular,  transformando o apelido em marca.

Carlos Piru,

Carlos Piru. criador do marabaishow. Foto: Reprodução/Facebook

Foi ele quem criou o ‘marabaishow’, um marabaixo mais suingado e cheio de elementos da cultura pop. Agregou o contrabaixo, a guitarra e outros instrumentos no novo estilo musical, mas sem perder a simplicidade e o colorido, verdadeiros show para os olhos e ouvidos. Uma mescla da tradição com os elementos pop, seguindo o exemplo do movimento mangue bit, de Chico Science e Nação Zumbi.

Carlos Piru é um negro bamba, e pensou, lá em 2010, em um forma de fazer o marabaixo ainda mais popular. Foi então que transformou a festa das comunidades quilombolas em um show para os ingleses, franceses (e quem estivesse por aqui de turista) ver e dançar.

Marabaishow

Marabaishow agregou elementos da cultura pop para divulgar o marabaixo. Foto: Manoel do Vale

“Um marabaixo feito pelas mesmas pessoas da comunidade, mas produzido, igual um show. Com a valorização do marabaixeiro como artista”, diz ele, revelando a fórmula que pôs o marabaixo no palco, com luz, coral, repertório pré-definido e cachê, o que realmente valoriza o artista, depois dos merecidos aplausos.

O projeto envolveu 20 grupos e comunidades, mobilizando cerca de 80 pessoas. Logo foi ganhando fama, até em 2011, ser convidado para se apresentar no Salão do Turismo, em São Paulo.

O repertório contava com canções próprias e também as que eram entoadas nas rodas de marabaixo pelos antigos.

“As composições eram próprias e as de domínio popular, cantadas nas rodas de marabaixo, mas produzidas”, ele responde, dando a letra de que é do samba, “mas adoro a cultura do tambor, onde tiver, eu to. No samba, no batuque, no marabaixo e na macumba”.

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Estilo é tradição da cultura amapaense

Cantor, compositor, ativista cultural nascido no Laguinho, pelas mãos de Dona Joana Claudino do Rosário (Preta Velha, sua avó), Carlos Piru é de raiz. Compositor de 32 sambas de enredo, Piru gravou um cd de inéditas em 1998.

“Jeito Samba, gravado em 1998, pago do próprio bolso. E a maioria dos sambas são meus”, responde com humildade, o compositor que já fez 32 sambas de enredo para o carnaval.

Carlos foi presidente da Escola de Samba e Grêmio Recreativo Solidariedade, em 1991, e da Liga das Escolas de Samba do Amapá (Liesa), nos anos de 1995 e 1996. É reminiscente do primeiro grupo de pagode do Amapá, criado em 1986. Seu principal parceiro é ninguém menos do que Nonato Soledade.

Carlos Piru assessora o presidente eleito da Liesa e tem um programa na Rádio Difusora, o ‘Perfil do Samba’, aos domingos. É responsável também pelo projeto ‘Samba no Mercado’, que acontece uma vez por mês no Mercado Central de Macapá.

Seles Nafes
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