A professora Dalva Figueiredo, de 54 anos, foi protagonista em muitos momentos importantes da política do Amapá, e conhece como ninguém a história das esquerdas, em especialmente de seu partido, o PT, que até hoje conseguiu vencer apenas uma campanha majoritária no Amapá, a reeleição de João Henrique na prefeitura da capital em 2001. As outras jornadas não foram vitoriosas, mas Dalva acredita que as derrotas deixaram boas lições de amadurecimento.
Hoje, à disposição do Amapá na representação do Estado em Brasília, Dalva tem como chefe um antigo adversário político, Gilvam Borges (PMDB). Só que no ano que vem é bem provável que ela disputa as eleições.
Dalva foi candidata à vice de Waldez em 1996 na corrida pela prefeitura da capital, vice-governadora de João Capiberibe (PSB) de 1995 a 2001, e depois governadora e candidata à reeleição em 2002; deputada federal por dois mandatos, e candidata à prefeitura da capital em 2008. No ano passado não conseguiu o terceiro mandato na Câmara por muito pouco. Agora tem convite para ser pré-candidata à prefeitura de Laranjal do Jari.
Responsável pela PEC 111, a emenda que garantiu a transposição dos servidores dos ex-territórios federais, recebeu SelesNafes.Com para uma conversa franca sobre seu futuro, o racha da atual bancada federal, a relação com o PSB, o governo Camilo, e a aproximação do PT com o governo Waldez Góes.
O que a senhora passou a fazer depois do fim do mandato?
Passei três meses reorganizando a minha vida. Tem a possibilidade de continuar trabalhando na liderança do PT na Câmara. Como sou funcionária pública, estou esperando o governo federal me liberar. Por enquanto estou trabalhando na representação do Amapá em Brasília.
Como é o trabalho com o ex-senador Gilvam Borges, do PMDB (secretário da Representação do Amapá)?
Ele me dá algumas tarefas (sorrisos). Tem muita coisa pra fazer lá. A própria secretaria pode ajudar as prefeituras a conseguir recursos no Calha Norte, FNDE e outros fundos. Os prefeitos não tem dinheiro pra pagar consultorias, e a secretaria pode dar esse suporte. E claro, eu acompanho as emendas que eu destinei como R$ 1,5 milhão que eu consegui pra Unifap expandir em Laranjal do Jari. Era pra gastar lá com mais duas licenciaturas, mas gastaram num prédio aqui em Macapá.
Qual sua história com Laranjal do Jari?
Fui muito bem votada em Laranjal quando era governadora e me candidatei à reeleição. Fizemos obras lá em poucos meses e o povo reconheceu isso. Quando me candidatei à deputada federal, de novo a população do Jari votou em mim. Sete ou oito obras concretas foram feitas em Laranjal com recursos que eu consegui como deputada, como bloquetamento de ruas, prédio do Rurap, escola…
E a senhora vai se candidatar à prefeitura de Laranjal do Jari?
O povo do Jari está cansado das gestões que passaram por lá. Agora tem um grupo de empresários e políticos que me convidou pra que eu seja candidata lá. Mas isso é uma decisão do PT. O partido tem que querer….
Vai depender de quê essa decisão?
Vou esperar o final da reforma política e esperar pra ver se o PT vai lançar candidatura em Santana, se vai apoiar a reeleição do Clécio (prefeito de Macapá que continua no PSOL). Ainda não sabemos se ele irá para o PT…
A senhora defende que o prefeito Clécio vá para o PT?
Eu não tenho nada contra. Mas que ele venha pra uma discussão interna com o partido, e que não faça a articulação só com o PT nacional.
Como a senhora vê a atuação da atual bancada do Amapá que parece cada vez mais rachada?
Nos dois mandatos que tive a união era uma característica reconhecida no Palácio do Planalto e nos ministérios. Nunca íamos sozinhos aos ministérios. Tínhamos as nossas divergências, mas íamos juntos atrás de coisas importantes pro Amapá. Agora vejo com preocupação porque a divisão está muito clara. Sempre tivemos uma bancada pequena, mas com força política. Brasília tem um fundo constitucional que paga os policiais dos ex-territórios. O Amapá foi retirado desse fundo. Se estivéssemos unidos e mobilizados teríamos conseguido a equiparação para os nossos policiais. Não há nada que a política não resolva.
Então falta diálogo na nossa política?
Claro. Eu até comentei com o prefeito Clécio que um dia desses ele foi para uma audiência de conciliação com o governador Waldez, e eu não achei isso legal. Poderia ter sido resolvido com diálogo (audiência onde o estado reconheceu uma dívida de ICMS com a prefeitura).
E por falar em diálogo, a senhora vê o PT junto com o PSB no ano que vem?
É isso que o PT tem que resolver. O PT tem que ter seu projeto político. Na derrota do Senado (a candidata era Dora Nascimento em 2014) não podemos responsabilizar A ou B. A gente tem que repensar as nossas alianças, se elas vão nos ajudar a crescer.
Mas o PSB nunca apoiou uma candidatura do PT…
É verdade. Temos que decidir se vamos apoiar alguém ou buscar nossa consolidação política disputando a prefeitura. Como vamos ter time se a gente não entra em campo pra jogar? Mas o PT tem que construir isso independentemente de aliança. Se o Clécio não vier pro PT seria bom o PT se aliar com o PSOL e lançar um vice? Vamos ficar isolados? Vamos fazer uma boa aliança? Temos que superar as disputas internas e parar de responsabilizar os outros pelas nossas derrotas
O que houve com o governo do PSB para não conseguir a reeleição?
Acho que houve avanço no sentido de não perder mais tantos recursos federais. A máquina é muito lenta. Acho que o Camilo avançou na execução de obras, mas pecou na política, como na relação com os funcionários públicos e com a Assembleia . Quem governa se não tiver a maioria no parlamento? É claro que a nossa Assembleia é complicada….
Complicada em que sentido?
Denúncias de gastos com verbas indenizatórias, diárias, mas cabe aos partidos fiscalizar e denunciar. Ao governo cabe estabelecer uma relação política e republicana…
Não cabe ao governo fiscalizar a Assembleia?
Não. Tem que ser o contrário, mas o governo estabelece que tipo de relação vai ter com o parlamento e também com os funcionários públicos e aliados.
O PT é oposição ao governo do Estado?
Acredito que não, porque o partido está conversando com o governador Waldez. Antes tinha restrição, mas agora tô vendo que não há mais essa dificuldade. Não vejo predisposição em ser oposição.