CÁSSIA LIMA
O dia 15 de junho nunca vai sair de memória do vigilante Filipe Jorge dos Santos Silva, de 22 anos. Foi quando ele preso injustamente pela Polícia Militar acusado de ser membro da ‘Gangue do Busão’. No momento da prisão, ele estava a caminho de uma entrevista de emprego.
A prisão do vigilante ocorreu por volta das 8h no Bairro do Zerão, na Zona Sul de Macapá, próximo da Rua José Caetano onde ele reside com a esposa e a filha recém-nascida. Lá ele foi abordado por policiais quando passava para ir à casa pastoral (ele é evangélico) levar a sua moto e buscar um carro para um processo seletivo de emprego. No meio do caminho havia uma viatura da PM prendendo suspeitos de assaltar um coletivo.
“Eles (PM) me abordaram e pediram documentos, depois pediram pra eu mostrar minha casa, eu mostrei porque não tinha nada a temer. Em casa eles pediram os nomes dos membros da gangue e eu dizia que não sabia de nada”, relembra emocionado o vigilante.
Além de prender Filipe, os policiais levaram também peças de motos encontradas na casa.
“Eles pegaram as peças da moto e diziam que me enquadrariam pelas peças que eu não tinha nota fiscal. Mas eu tinha, tanto é que estou solto hoje porque comprovei por meio de nota que as peças eram minhas. Eu trabalho também como mecânico, por isso tinha tanta peças de moto na minha casa. Eu tava customizando a minha moto”, conta Filipe.
Filipe, que é pai de uma menina de 20 dias de vida, marido, vigilante e evangélico, ficou preso durante quase todo o dia no Ciosp do Pacoval. Lá, ele passou horas só de cueca numa ‘cama’ de pedra da cela.
“Foi um transtorno tão horrível que eu não desejo pra nenhum inimigo. Na delegacia, depois do meu depoimento e de testemunhas, foi comprovado que eu não devia nada e me liberaram”, diz ele.
O vigilante, que está desempregado, voltou para casa, mas a vida virou do avesso. Mesmo assim, Filipe tenta retomar a vida e se firmar no bairro como a pessoa de bem que sempre foi.
“Eu me sinto um lixo. Eu quero contar a verdade. Levantar a cabeça e deixar essa história pra trás, mas algumas pessoas querem me ver como bandido. Eu não sou criminoso, inclusive estou procurando emprego de novo”.
O comandante geral da PM do Amapá, coronel Carlos Souza, admitiu durante operações para prender suspeitos de crimes pode ocorrer a detenção de algum inocente para averiguação, mas disse que vai acompanhar pessoalmente a apuração dos fatos pela Corregedoria da PM para saber se houve excessos por parte dos policiais.
“Me coloco à disposição da família para recebê-lo no comando e ouvir sua história”, disse ele.