GESIEL OLIVEIRA
Hoje Macapá amanheceu com a foto da TOCHA estampada na mídia. No Whatsapp não se falava em outra coisa. Eu sou filho da terra e morador da Zona Norte de Macapá, e hoje ao sair de casa pela manhã percebi um revitalização repentina e abrupta.
Lâmpadas que há mais de 2 anos estavam queimadas foram trocadas, grama aparada nos canteiros, faixas nas ruas pintadas e até a “ponte Frankenstein do balança-mas-não-cai” teve um nova pintura. Pena que isso aconteceu somente no trajeto da TOCHA.
Como macapaense, e já pensando no clima das eleições, sinceramente senti vontade de votar na TOCHA para as eleições de 2018, tamanha a velocidade com que promoveu todas essas mudanças.
Bem, mas voltando à nossa caótica realidade amapaense, esta semana, de forma crítica e hilária, surgiu nas redes sociais a campanha #TochaPassaAquiNaMinhaRua, com o propósito de mostrar a triste realidade por qual passa a população do Amapá, e, ao mesmo tempo, para revelar que nossa população não tem muito a comemorar.
O Amapá nunca teve uma taxa de desemprego tão elevada, o nosso país está em frangalhos, nossa economia sangrando, o feijão custando R$ 11,00 o quilo, e a gente tem que ficar aplaudindo essa TOCHA que vai custar R$ 250 mil só pra passar pelas ruas “maquiadas” aqui de nossa sofrida Macapá?
Infelizmente o povo tem o governo que merece. Isso que vivemos no Amapá é fruto dessa histórica política da mentalidade da corrupção arraigada, onde os políticos usam de malversação de recursos públicos durante o mandato inteiro para “juntar” e os eleitores para “sugar” durante a campanha eleitoral, de forma que esse ciclo se fecha para quem pretende entrar.
E mesmo quando alguém consegue transpor esse hermético sistema, tem de entrar no esquema que mantém a política no Amapá. Um sistema de retro-alimentação viciada, incurável e hereditário. Um caminho que algumas velhas famílias já conhecem bem os meandros e que há décadas se revezam no poder.
Um povo mantido por uma aberrante relação impulsionada pela miséria e troca de favores. Um Estado que agoniza com um passado manchado, um desarticulado presente e um improvável futuro. Órgãos públicos que viram cabedais para pendurar por 4 ou 8 anos agitadores de bandeiras no lugar de exonerações de técnicos e analistas.
Cargos que viram cegos propaladores de um crescimento que só se vê bem pintado na propaganda institucional, preocupados em simploriamente manter sua função remunerada a todo custo, mesmo que isso signifique o retrocesso. Gente que viu o Amapá ser aviltado no cenário nacional, gente que foi para as ruas quebrar tudo em protestos contra a corrupção, e que agora está lá como fantasma pendurado em alguma repartição pública depois de fazer campanha para os mesmos personagens da velha e anacrônica política amapaense.
É um ciclo incurável, incapaz de mudar esse triste, insólito e decadente quadro econômico, político e social do segundo Estado com o menor PIB e um dos mais pobres do Brasil. Lugar com economia ancorada no contracheque público, onde mais de 1000 empreendimentos foram fechados nos últimos 2 anos, milhares de desempregados congestionam o hipertrofiado setor terciário que concentra mais 80% da população de um Estado sem setor primário e secundário.
Empresas que no mundo inteiro são fortes e crescem a todo vapor, mas que aqui fecharam as portas, desempregando centenas de amapaenses, dentre tantos outros empreendimentos que devido à alta carga tributária e à politica de pagamento antecipado de ICMS, não puderam continuar no nosso Estado.
O último hospital construído no Amapá foi feito por Janary Gentil Nunes na década de 50, e de lá pra cá, se fizeram “puxadinhos” e “guaribadas”. A segurança sem orçamento, equipamentos e quadro de pessoal, é uma insegurança decadente. Mas a ânsia, a vontade de assumir um município quebrado é forte. Em disputa está a “viúva”, o “zumbi”, a “teta” ou tantos outros infinitos sinônimos hilários, alcunhas que sintetizam a atual situação que se tornou esse rincão sofrido, que infelizmente virou ícone da corrupção para o resto do Brasil.
Lugar onde a memória não existe, onde o bom senso não vale mais que um “tiket” combustível ou uma cesta básica, onde técnicos são obrigados a virarem cabos eleitorais ou são exonerados, onde o orçamento para propaganda é 10 vezes maior que o destinado à segurança pública, na malograda tentativa de escamotear a inoperância de um “marasmo” administrativo. Dizer que nosso Estado não tem jeito surge até como compreensível para um povo sem força até para sonhar com a mudança.
Mas ainda há uma única saída possível, e que está materializada em um papel moeda dentro de sua carteira, chamada de título eleitoral. Exerça seu direito conscientemente esse ano. Não troque seu voto por um desejo imediato, para em troca sofrer por mais quatro anos.
Não é a política que faz o candidato virar ladrão, mas sim, o voto inconsequente que faz o ladrão virar político, lembre sempre disso.
Quanto à TOCHA, deixe que ela passe, e que leve consigo a ostentação das grandes marcas, empresas e investidores, e depois que ela passar e levar, a nossa dura realidade permanecerá. Nosso povo trabalhador, sonhador e cheio de esperança não pode aplaudir um espetáculo quando suas crianças estão passando fome, quando falta merenda nas escolas e quando nossos filhos estão desempregados.
Desculpem a minha franqueza, é apenas um desabafo de um macapaense da nata.