MANOEL DO VALE
Seja como forma de resistência ou de integração à cultura externa, como é o caso dos indígenas e africanos, as manifestações culturais ganharam volume e importância no decorrer de toda a história, num processo de mistura acontecido com a colonização portuguesa.
À fé imposta pelos colonizadores, os negros sincretizaram seus tambores; e os índios suas pajelanças. O produto dessa estratégia de resistência, que inclui outros elementos do folclore e da mitologia desses povos, resultou em expressões de colorido e sonoridade únicos, que se espalham por diversas regiões brasileiras.
As folias religiosas são algumas delas, que na Amazônia têm espaço preservado e valorizado. É o caso do Amapá, onde nove comunidades, de cinco municípios, mantêm vivas essas expressões de originalidade, passando às gerações seguintes seus repertórios, que incluem as regras de organização e hierarquia de cada grupo, que se firmam há alguns séculos nas homenagens aos seus santos, aos quais os foliões dedicam grande parte suas vidas.
É a essas expressões que Decleoma Lobato, mestra em história social e pesquisadora de culturas populares e patrimônio cultural do Amapá, estuda já há alguns anos.
“As folias são um conjunto de práticas tradicionais que envolvem cantos antigos que são passados de geração a geração através da oralidade, acompanhadas por instrumentos bem simples, bem rústicos. Eles são usados para fazer a louvação aos santos, uma prática do catolicismo popular que é feita na Amazônia desde os tempos da colonização”, explica Decleoma.
A pesquisadora é autora de um de dois projetos de documentários selecionados pelo edital Etnodoc, do Ministério da Cultura e Iphan. Seu filme, As Escravas da Mãe de Deus (2010), registra a festa de Nossa Senhora da Piedade, no Igarapé do Lago.
Há grande diversidade de folias. Algumas delas desfrutam de maior popularidade, como as folias de Reis, no sudeste do país.
No Amapá, onde as festas de folias em grande parte têm mais de cem anos, existem folias recentes. É o caso da festa de São Sebastião, no Mazagão Novo, onde elas têm ainda poucos anos. O que, segundo Decleoma, revela a dinamicidade dessa expressão da cultura, que geralmente é associada ao marabaixo, o batuque, o sairé e as ladainhas. “Estás são práticas culturais”, instrui a pesquisadora.
Nos próximos dias 13, 14 e 15 de agosto, as comitivas de foliões e foliãs de folias religiosas irão se reunir no quilombo do Cunani para realizarem o quinto Encontro de Folias Religiosas do Amapá e o segundo Encontro de Rezadores de Ladainhas.
O encontro é realizado pela Associação Amapaense de Folclore e Cultura Popular.
“O encontro vai envolver cinco municípios, com 15 comunidades diferenciadas. Vai ser do Oiapoque ao Ajurixi, no Laranjal do Jari”, informou Iran Lima, coordenador da associação.
O evento no Cunani começa no dia 13, mas no dia 12, quando os grupos ou comitivas devem chegar a Calções, haverá um cortejo e a exibição do documentário sobre redes a festa de Santa Maria, que faz parte do inventário estadual de folias religiosas. Além de roda de tambores. Agende e participe.