CÁSSIA LIMA
A vida do motorista Edielson da Silva Pinheiro, de 37 anos, mudou completamente no último dia 24, quando ele foi preso por engano pela Polícia Civil durante a Operação ‘Pokémon’. Por um erro judicial, o motorista foi confundido com um menor infrator homônimo.
Era para ser mais um dia de trabalho normal na vida de Edieldon, que é natural do Pará e mora em Macapá há 10 anos, mas as batidas na porta da casa, no Bairro Araxá, já sinalizavam que o dia seria diferente.
“Eram umas batidas fortes e apressadas. Eu escutei e fui abrir a porta e me deparei com policiais militares, civis, o Bope e a Deiai [Delegacia Especializada em Investigação de Atos Infracionais]. O policial perguntou por mim, eu me apresentei e eles disseram que eu tava preso. Eu disse que não, que trabalhava e tudo. Eles entraram assim mesmo em casa, me algemaram e me trouxeram para a UPC do Araxá”, contou o motorista.
Foram pouco mais de cinco horas que Edielson ficou preso. A maioria do tempo ele passou numa cela da Unidade de Policiamento Comunitário (UPC) dos bairros Araxá e Pedrinhas. Lá, diz ter sido obrigado a ficar nu e tirar fotos, momentos que deixaram o motorista em choque.
“Eu sempre perguntava o que tava acontecendo, mas os policiais me diziam apenas que ‘a casa caiu’. Me trataram como lixo. Me colocaram numa cela podre e suja. Quando outros criminosos começaram a chegar eu fiquei em choque. Não falei com ninguém, só fiquei olhando”, destacou Edielson.
Depois de um tempo, os presos foram colocados na parede e a imprensa começou a fazer imagens de todos. Amigos de Edielson, que trabalham em emissoras de TV, o conheceram e questionaram a prisão, dizendo ele era trabalhador e ajudava na comunidade. A polícia mostrou o mandado de prisão com o nome dele e teria ficado por isso mesmo.
Passado um tempo, todos os presos na operação foram colocados em um camburão e encaminhados para a Deiai. Quando chegaram lá, Edielson pode respirar mais aliviado.
“Todos os presos foram apresentados para a delegada Andreza, quando ela me viu ela disse ‘esse não é de menor, ele é um homem’. Ela puxou o processo e viu que não era eu. Ela chamou os policiais e disse ‘prenderam o homem errado, soltem ele agora’”, descreveu o motorista.
Foi então que a delegada viu onde estava o erro. O problema que acarretou na prisão do homem errado teria origem no Fórum de Macapá, e se deve a uma situação que Edielson viveu anos atrás.
“Logo quando vim pra Macapá comecei a trabalhar na montagem de palcos de shows e recebi uma multa, apesar de pagar, o registro ficou no Fórum. Quando foram intimar o menor infrator, os meus dados constavam no documento e caiu tudo pra mim”, relembra o motorista que diz que a partir desse momento os policiais começaram a tratá-lo bem.
O motorista procurou uma advogada e entrou com processo contra o Estado por danos morais e retratação de imagem. Segundo Edielson, a prisão o fez perder o emprego e o respeito entre os moradores do bairro onde mora.
“As pessoas fazem piadinhas, me xingam, mas muitos reconhecem o trabalho social e cultural que faço na comunidade. Eu sei que a culpa não é do policial, mas do agente, entretanto, a polícia me tratou mal na abordagem. Muitas pessoas falam que são inocentes ao serem presas, mas, poxa, a polícia deveria apurar melhor e ter atenção com essas pequenas informações”, finalizou.
A reportagem procurou a delegada Janete Picanço, que comandou a operação, para mais informações a respeito do caso, mas não conseguiu resposta.