CÁSSIA LIMA
As cenas tradicionais de superlotação e o sofrimento de pacientes, incluindo crianças, parecem um fio de novelo que nunca acaba no Hospital de Emergência de Macapá (HE), o principal pronto socorro da capital. Fotos tiradas na manhã desta quarta-feira, 9, revelam que a situação está muito longe de ser controlada.
Além da falta de remédios, material e macas, os pacientes e acompanhantes dizem que não são bem tratados pelos funcionários do hospital, e existem até denúncias de médicos que estariam cobrando para fazer cirurgias ortopédicas dentro do hospital.
“Dias atrás apareceu um médico aqui que nos cobrou pela cirurgia. Ele tava falando que ia passar a gente na fila se pagássemos. Eu fiquei chocado e fui lá pra baixo. O valor eu não sei, mas essa máfia é antiga aqui dentro, dizem”, denunciou o paciente Cidinaldo Arouxo, que aguarda na fila de cirurgias.
Fotos tiradas por parentes de pacientes mostram o setor de ortopedia lotado. O corredor que dá acesso ao segundo andar do hospital está cheio de pacientes, alguns acomodados em papelões. Há crianças no chão e outras que dividem o mesmo leito com adultos.
A maioria das enfermarias não tem climatização, e o calor é desgastante. Os pacientes também reclamam da dificuldade de falar com médicos.
“Os médicos são muito mal educados. O dever deles é tratar bem os pacientes e acompanhantes, mas isso não está acontecendo. Não tem remédio. Eu estou há dois meses aqui e não veio um médico me ver, só enfermeiro e técnico. Gaze e soro é a gente que compra. O pessoal vem só dar antibiótico e fazer curativo”, relatou a paciente Luciene Araújo.
Jorge Silva está a 85 dias esperando cirurgia ortopédica para o fêmur quebrado, e nem tem agendamento ainda. Ele conta que já perdeu a paciência, e se nada for feito até dia 15 desse mês, ele vai emprestar dinheiro num banco para fazer a cirurgia em hospital particular que cobra R$ 10 mil.
“A gente nem acredita mais e perdeu as esperanças. A secretária de saúde (Renilda Costa) disse que ia chegar material aqui, mas há 10 dias não há nada. Médico passa e nem olha pra gente, a gente que tem que correr atrás deles aqui dentro. É desumano. Somos tratados como lixo”, desabafou.
Até às 9h desta quarta-feira, 9, o diretor do hospital ainda não havia chegado para trabalhar. A assessoria de imprensa do HE ficou de se posicionar ainda hoje sobre o assunto.