SELES NAFES
O empresário Walmo Raimundo Maia Cardoso, de 51 anos, diz ser um homem marcado para morrer. Em entrevista exclusiva ao portal SELESNAFES.COM, o dono da empresa Sigma, investigada na Operação Créditos Podres, da Polícia Federal e Ministério Público Federal, diz que está escondido num estado da Amazônia, e tem medo de se entregar.
“Me entrego de dia, e à noite estou num caixão”, garante ele.
Walmo Maia Cardoso está com a prisão preventiva decretada desde julho do ano passado, quando foi deflagrada a primeira fase da Créditos Podres. No total, a operação teve 3 fases. Segundo a PF e o MPF, a empresa teria vendido créditos inexistentes da Receita Federal para que fossem usados na amortização de uma dívida de R$ 45 milhões da Assembleia Legislativa com a Previdência.
O valor do contrato, cerca de R$ 12 milhões, foi pago integralmente. Na época, a Assembleia Legislativa do Amapá era presidida por Moisés Souza (PSC), mas administrada financeiramente por Michel JK, então corregedor e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Moisés Souza alega que estava afastado por decisão da Justiça, e, portanto, não poderia ter tido envolvimento. Em reportagens anteriores, Michel JK já disse que teria sido ele quem denunciou o esquema às autoridades.
Num dossiê de 12 páginas, entregue ao Portal SELESNAFES.COM num encontro com um emissário no Aeroporto de Macapá, Walmo Maia acusa parlamentares, empresários e servidores da Assembleia Legislativa de se beneficiarem do esquema.
Contudo, o dossiê não é acompanhado de provas, por isso não será publicado nesta reportagem. O inquérito já foi remetido pelo Ministério Público Federal à Justiça Federal.
Durante uma das fases da Créditos Podres, sócios da empresa Bernacom e Kencco foram presos, além de servidores da Alap responsáveis por licitações e contratos.
São essas pessoas que Walmo Maia descreve em seu dossiê, em detalhes que começam com a montagem do esquema, negociação do rateio, criação de empresa de fachada, fraude da licitação, até o recebimento dos valores, inclusive por deputados.
O empresário cita parlamentares e diz que eles teriam embolsado 45% do valor do contrato em forma de propina.
Abaixo, você confere trechos de uma entrevista como empresário por meio de mensagens de texto. A entrevista foi feita durante vários dias, porque Walmo Maia diz que precisa estar em constante movimento. “Não posso dormir duas noites no mesmo lugar”.
SELESNAFES.COM:
Por que o senhor decidiu fazer esse relato?
Waldo Maia:
Porque li uma outra denúncia aqui. As pessoas que estão envolvidas não estão medindo esforços para colocar a culpa toda em mim. Conto com o seu noticiário, pois têm muitas pessoas fortes em Macapá.
O senhor continua com a prisão decretada?
Sim, continuo. Se não fosse esse mandado eu já teria falado tudo.
Como tem sido a sua rotina? deve ser complicado se esconder por tanto tempo…
Escondido, vivendo de contribuições de amigos, e no início sendo subornado pelo….. (cita empresário), onde me dava dinheiro para assumir o problema todo da Alap com a Sigma.
Quanto ele ofereceu?
No início de agosto de 2015 ele me deu R$ 40 mil, e depois me dava entre R$ 5 mil e R$ 10 mil (por mês). Quando foi agora em junho ou julho de 2016, ele ofereceu R$ 500 mil, sendo R$ 352 mil para pagar a fiança do meu filho (Walkir Neto, preso na operação) e o restante para continuar fugindo
Seu filho está preso?
Não, foi liberado na semana que você pegou o documento (dossiê) aí no aeroporto. A fiança foi reduzida para 30 salários mínimos (cerca de R$ 27 mil). Ele estava com aquele advogado aí pagando a fiança naquela semana. Graças a Deus ele (filho) pode terminar a faculdade dele e continuar com a vida.
Não seria mais fácil o senhor se apresentar à policia, contar tudo o que sabe, e pedir proteção da Justiça?
Sim, me apresentaria e falava tudo, e iria para o presídio de manhã. A noite estaria num caixão.
O senhor foi ameaçado?
Já me deram um conselho daí, que tem um homem que não só mata o peão, mas mata a família, não tenho medo por mim, mas tenho filhos
Compreendo, mas o senhor já tentou algum acordo com o MPF para não se preso em troca de proteção pro senhor e toda a sua família? Isso já foi conversado?
O Amapá é somente uma ponta da besteira que me meti, o fio do novelo vai longe em Belém.
O senhor se refere a outros contratos da Sigma, em outras cidades?
No início o meu advogado disse que o MPF queria que eu falasse, estava tudo certo, mas no dia mudaram de conversa, o meu advogado ia me apresentar em Belém. A Sigma é uma vítima do (cita empresário), o que me refiro é a conexão do (mesmo empresário) com pessoas em Belém.
Conexões em que sentido?
Vou te explicar três coisas:
A Sigma fez contrato com a PM de Barcarena e a Câmara Municipal de Barcarena para eleger um deputado estadual no Pará….Já em Ferreira Gomes, o serviço foi feito por ordem do prefeito para que ele pudesse tirar a CND da SRF (tributos federais) e receber o repasse do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Continuando a terceira explicação, o contrato da Alap foi para cobrir despesas com gasto com eleição (cita deputado e acordos políticos) e tem muitos políticos nas mãos de uma empresa que é cabide dos políticos.
O que o senhor espera com a divulgação desse dossiê que o senhor me entregou?
O dossiê é para a sociedade saber o que aconteceu, e aonde foi o dinheiro que era a minha parte. Se eu tenho que pagar sendo preso não tem problema, vou. Mas a Polícia Federal não pode dizer que estou fora do país usufruindo de um dinheiro que eles não investigaram bem, apesar da denúncia que eu fiz.
Seles, vou sair, não posso ficar muito tempo num mesmo lugar…Um bom dia e obrigado por me ouvir.