SELES NAFES
A dissolução da sociedade no principal empreendimento comercial do estado foi parar nas barras da justiça. Dois grupos de sócios amapaenses estão movendo uma ação judicial contra o grupo controlador do Amapá Garden Shopping pedindo a devolução de todo o investimento feito nos últimos anos no empreendimento, acrescido de correção monetária e perdas. Seria uma bagatela da ordem de R$ 30 milhões.
O portal SELESNAFES.COM procurou a direção do Grupo Tenco na última quinta-feira, 10, informando o teor da reportagem. No dia seguinte, uma assessora de imprensa da corporação ligou informando que o grupo iria se pronunciar no último sábado, 12, mas isso não ocorreu.
O Grupo Tenco é dono de 50% do Amapá Garden Shopping, possui mais de 20 shoppings em todo o Brasil, e é controlada pelo grupo Pátria, um dos maiores administradores de fundos de previdência do país.
Em 2006, o Grupo Tenco manifestou interesse de abrir um shopping no Amapá, mas só em 2008 iniciou a elaboração do projeto. No ano seguinte, a ideia começava a sair do papel com o início dos licenciamentos.
A composição societária tem a Tenco com 50%, e o restante dividido entre grupos locais. O grupo Domestilar tem 20%, o Arcas (formado por acionistas do grupo Betral) possui mais 20%, e o Grupo Green ficou com 10%.
Apesar do enorme potencial econômico do projeto, não demorou para começar um desgaste na relação entre os grupos locais e a Tenco, que tocava as obras. O motivo: o projeto passou a ficar mais caro do que se previa. Os custos se elevaram, principalmente porque as obras demoraram mais do que constava no cronograma inicial.
Mesmo assim, os investidores amapaenses fizeram grandes aportes de recursos. O grupo Domestilar investiu cerca de R$ 8,6 milhões, enquanto o Arcas desembolsou mais de R$ 8,4 milhões. A Green Participações, composta por sócios da então Faculdade Seama, da empresária Daniele Scapin, entrou na sociedade com o terreno onde o empreendimento foi erguido.
Depois de R$ 115 milhões investidos (R$ 54 milhões são de linha de crédito), o shopping foi inaugurado no dia 30 de julho de 2013 com o projeto incompleto. Apenas 20% das lojas estavam funcionando.
Uma das franquias que se instalariam no Garden, mas nunca colocou os pés em terras tucujus, era a gigante mundial Walmart, dona de supermercados e lojas de departamentos espalhadas em quase todos os continentes.
O portal SELESNAFES.COM conseguiu conversar com os dois principais sócios amapaenses do empreendimento, os empresários Otaciano Júnior (Arcas) e Jaime Nunes (Domestilar). Eles confirmaram que o projeto consumiu mais recursos do que o previsto, e garantem que não gerou retorno.
“Houve a necessidade de captar mais recursos, e fizemos isso no FNO. Só que o empreendimento não conseguiu atingir o resultado que foi proposto inicialmente, tanto em relação à locação dos espaços como o retorno do investimento”, explica o presidente do Grupo Domestilar, Jaime Nunes.
Houve frustração financeira também com a quantidade de lojistas abaixo do esperado, como o caso da Walmart.
“Era o principal espaço do shopping. Separamos cinco mil metros quadrados para esse supermercado da Walmart, mas nunca se concretizou. Até hoje esse espaço está fechado pagando condomínio. E quem paga esse prejuízo é o investidor. Um shopping é um grande empreendimento imobiliário. Quando não há locação, quem paga o custo fixo é o investidor”, explica Otaciano Júnior.
Assim como em outros shoppings, cada lojista paga um aluguel mínimo, e mais um percentual sobre as vendas. Quem recebe esses recursos é a gestora do shopping, a Tenco. Em mais de 3 anos de funcionamento, os sócios amapaenses dizem que nunca receberam um centavo de retorno do investimento.
Pelo contrário. Um balanço recente revelou prejuízo de mais de R$ 8 milhões na atividade do shopping nos últimos dois anos.
Cansados da pressão dos outros acionistas por resultados, no mês passado a Domestilar e a Arcas decidiram sair da sociedade, mas fizeram uma exigência: queriam de volta o investimento com correção monetária, perdas e lucro cessante, o que somaria quase R$ 30 milhões. A Tenco concordou em devolver apenas os valores principais investidos.
Com o impasse, o caso foi parar na Justiça. O processo espera decisão na 6ª Vara Cível e de Fazenda Pública de Macapá.