CÁSSIA LIMA
Parentes e pacientes com câncer no Amapá estão revoltados com o atraso na emissão de passagens para tratamento fora do estado. A maioria está com data de consulta marcada em hospitais pelo Brasil, mas não pode viajar porque o governo está há quase dois meses sem pagar a agência de viagens contratada.
Mariney Trindade Frederico, de 33 anos, sabe bem dessa realidade. Diagnosticada ano passado com linfoma no pescoço, ela tenta desde abril uma consulta no Hospital de Barretos, em Goiânia. Depois de 8 meses de espera, conseguiu a consulta para o dia 9 de dezembro, mas quando chegou na agência de viagens para receber a passagem, ela não havia sido emitida.
“Me disseram que não vão liberar nada até que o Estado pague os três meses atrasados. Tu já pensou? Eu tenho que fazer radioterapia e não posso por causa disso. Eu quero dizer pro governo que a gente não tá saindo daqui pra brincar, estamos doentes e precisamos de serviços que o Estado não oferece”, desabafou a paciente.
Atualmente, existem cerca de 1,5 mil amapaenses fazendo Tratamento Fora de Domicilio (TFD) pelo país, especialmente em São Paulo, Natal, Goiânia e Belém. Grande parte são pacientes com algum tipo de câncer, como é o caso do filho de 15 anos do técnico de informática, Marcelo Nery, de 35 anos.
“Meu filho foi para São Paulo na terça-feira, 29, com a minha mãe para fazer exames, agora ele recebeu alta e precisa voltar. Vim atrás da passagem e recebi essa notícia. Eles não têm condições de se manter lá, como vai ser?”, indagou o pai desesperado.
Os parentes dos pacientes falam que, além de lidar com a doença, precisam passar por transtornos como esse, e ainda conviver com o atraso no auxílio financeiro do TFD, que não é pago desde março.
“Meu filho precisa fazer exames em Belém. Estamos com consulta marcada para o dia 6 de dezembro. Isso tudo é muito transtorno, estamos tentando tratamento e chega aqui e é isso. A agência diz isso e a secretária de saúde diz outra coisa”, frisou Josiane da Silva Ramos, de 21 anos, que precisa fazer exames para o filho que é surdo.
Todas as passagens de ida e volta para o Amapá, para os pacientes e acompanhantes, são emitidas pela empresa AP Turismo, que possui contrato de um ano com a Secretaria de Saúde do Amapá (Sesa). Mas, segundo os donos da empresa, o governo não paga a agência desde outubro.
O contrato com a agência é orçado em R$ 875 mil por mês para emitir 900 passagens de saída e retorno, mas a empresa alega ter contas a receber no valor de R$ 2,6 milhões.
Os pacientes e parentes prometem fazer atos para cobrar do governo o pagamento. Procurada pelo portal SELESNAFES.COM, a Sesa informou que o recurso para o pagamento ainda não foi empenhado e não há previsão.