JÚLIO MIRAGAIA
Assistindo a metade dos 74 episódios da novela colombiana, Pablo Escobar: El Patrón del Mal (disponível na Netflix), é impossível evitar a comparação do método com que o Cartel de Medelín se utilizava para eliminar seus adversários com os recentes episódios da situação política brasileira.
Seria lugar comum também falar de outra série conhecida, House of Cards, que trata dos bastidores da política nos Estados Unidos e que também mostra, com maior precisão até, como o jogo político é sujo e sem limites não somente lá, mas em qualquer lugar onde haja disputa pelo poder.
Como de praxe, as redes sociais se dividiram após a morte numa queda de avião do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, na tarde de quinta feira, dia 19, entre coxinhas e petralhas (ou o quer que seja). Cada um com suas devidas narrativas, transbordantes de verdades, inocentando seus devidos santos, ante a realidade cada vez mais difícil de instrumentalizar.
Desculpem pelo parágrafo longo, mas diante de uma situação no mínimo inusitada, e num país governado por uma empreiteira e um mesmo partido há mais de 40 anos (sim, um mesmo partido governa o Brasil durante todo esse tempo e não havíamos percebido, ou percebemos e ignoramos, como fazemos com a crise na segurança pública) não parece ser teoria da conspiração suspeitar que haja algo de podre aí.
O presidente que é citado 43 vezes no maior escândalo de corrupção da história pode, após a morte do ministro, indicar quem poderá investigá-lo. A relatoria da Lava-Jato no Supremo vai para o substituto de Teori que pode ser indicado pelo homem sem votos.
Nunca é demais analisar esse fato e que a Lava Jato deve ser paralisada por algum tempo, após a morte de Teori Zavascki. Nada mais tranqüilo e favorável para a velharada de Brasília.
Não sou nenhum especialista em aviação, passo galáxias distante disso e prefiro não me ater sobre a situação técnica da aeronave, possível sabotagem e etc. A Polícia Federal e demais autoridades competentes tratarão de fazer uma investigação sobre esse estranho “acidente”, às vésperas da retirada do sigilo de mil delações.
A verdade é que não é que estejamos impressionados com o que séries como Pablo Escobar ou House of Cards mostram. Com teorias da conspiração envolvendo reptilianos e o Banco Mundial. É que, na maior das boas vontades, estamos tendo que duvidar do óbvio nas últimas horas. Que há uma guerra entre facções não somente nos presídios, mas em Brasília (o áudio vazado de Romero Jucá que o diga). E que todos os envolvidos prestaram suas condolências para o homem que provavelmente faria suas máscaras caírem. A verdade é que as séries citadas nesse texto todas são baseadas em fatos reais, na nossa dura e pesada realidade em que a corrupção é sistêmica.
Não se trata de ser de esquerda ou de direita, conservador ou progressista. Os de cima, da superestrutura do poder, que governam e que governaram, vermelhos e azuis, estão rindo da sociedade enquanto o país pega fogo e seguimos achando tudo normal.