ANDRÉ SILVA
O novo presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Amapá (Adepol), Claudionor das Dores Soares, de 60 anos, assume o cargo definitivamente no dia 27 de janeiro deste ano. Ele pretende priorizar três pautas que, na sua avaliação, são de extrema importância à corporação: reposição de perdas salariais que já acumulam cerca de 26%, igualar o salário do delegado ao do procurador do Estado e lutar por melhoria nas estruturas físicas das delegacias do Amapá.
Já é a quarta vez que Soares, goiano de Itumbiara, assume a associação que foi fundada de fato em 28 de junho de 1985 e só passou a ser de direito em 1996. A entidade acumula, ao longo dos anos, várias conquistas para a categoria.
Delegado Claudionor pretende reativar a tiragem da Revista Adepol, criada no primeiro mandato dele. Na época, a revista tinha uma tiragem de 3 mil exemplares.
Em entrevista ao portal SELESNAFES, ele fez duras críticas aos planos da Secretaria de Segurança Pública e pede mais comprometimento do novo secretário com as causas da Polícia Civil do Amapá.
Todos os delegados do Estado são associados ?
Não. Hoje nós somos menos de 60, apesar de o total ser de 90 delegados em todo o estado.
Esse número de delegados é suficiente para atender o estado?
Não. Hoje, para resolver a carência do Amapá, seriam necessários mais uns 40 delegados.
Na sua opinião, o policial civil hoje tem boas condições de trabalho?
São as piores possíveis! Não só no Amapá, mas em todo o país. Está acontecendo um processo de sucateamento da polícia judiciária brasileira. A única que tem condições melhores que a nossa ainda é a Polícia Federal. Na verdade, as polícias do Brasil sempre são deixadas em terceiro plano. Sai governo entra governo, e a polícia vai só se deteriorando e isso em todo o aspecto. Seja ele profissionalmente, quando não se tem um investimento no profissional, como também em contingente.
A Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) pensa em extinguir algumas delegacias de bairro e reuni-las em novos Ciosps, como a do Bairro Pacoval. O que o senhor acha disso?
Temerário. A Polícia tem que estar nos bairros. É preciso que haja centrais de flagrantes 24 horas. Fechar delegacia de bairros dificultará o acesso da população. Já são poucas delegacias e fechar as que ainda restam é ruim. Na teoria, o Ciosp é bom. Nós temos hoje no Amapá três unidades dessas e apenas uma funcionando e muito mal, que é a do Pacoval. A do Novo Horizonte já está sucateada há muito tempo e a dos Congós idem.
Como o senhor avalia a estrutura das delegacias?
Péssimas, em termos materiais. Pouco investimento, a começar pela estrutura dos prédios que estão caindo aos pedaços. Tem que haver investimento na segurança pública. Tem que gastar dinheiro para estruturar o sistema de segurança. Segurança pública não tem que ser discutida só em época de crise ou de eleição.
Quais as expectativas de melhoras no sistema quando se tem um delegado de carreira no comando da Sejusp, como é o caso do delegado Ericláudio Alencar?
Secretário de segurança pública é um cargo de confiança do governador, e a qual nós delegados não nos importamos muito porque é uma figura política. Ser um secretário é bom sim, mas não importa quem seja o importante é que ele esteja comprometido com a causa da segurança pública. Já tivemos vários agentes de polícia e membros da justiça nesse cargo, mas para nós isso não importa. O importante é o compromisso dele.
O governo anunciou que fará concurso público para 30 novos delegados. Esse seria o número ideal?
Não! O melhor seria 40. Antes do concurso, nós precisamos arrumar a casa primeiro.Precisamos ver a condição que se encontram os demais. Temos quatro turmas de delegados que entraram em quatro concursos, 1992, 1994, 2007 e 2010. Essas duas últimas estão tendo um problema administrativo grande que tem que resolver. A turma de 2010 precisa ser legalizada antes de realizar outro concurso.
Por que o senhor diz que a turma de 2010 não está legalizada?
Na época da posse, era para eles entrarem em segunda classe, mas foram colocados de primeira e foi mantido. São excelentes profissionais, mas até hoje estão em dúvida se são de primeira ou segunda classe.
Qual a diferença?
Na polícia se trabalha muito com hierarquia. Então, pela lei orgânica, você entra como segunda classe, depois vai para a primeira e depois para a classe especial. Hoje nós temos duas classes especiais, a de 92 e 94. Teríamos a de primeira que seria a de 2007 e a de 2010 seria a de segunda, e por erro entraram como de primeira. Depois que a casa estiver arrumada poderemos saber quantas vagas de fato teremos disponíveis.
Cite duas prioridades da Associação para os próximos dois anos.
Brigar pela isonomia de salários, queremos tornar o salário do delegado igual ao dos procuradores do Estado; a segunda são as reposições das perdas salariais que já chegam a 26% e eu quero citar uma terceira que seria lutar por melhores condições das delegacias.
Qual a importância da associação para a categoria?
Muita! Mas muitas vezes não é reconhecida pela própria categoria. Aqui no Amapá todas as conquistas de delegados de polícia é uma história de luta. Nunca ganhamos nada, sempre foi através de muita luta e reivindicação.