DA REDAÇÃO
Foi publicado no site da Aeronáutica, o relatório final sobre o acidente em que morreu o deputado Dalto Martins, no dia 20 de abril de 2012. O documento, de 24 páginas, aponta a pouca experiência do piloto e uma falha no motor da aeronave como possíveis causas da queda do avião. Além disso, problemas no planejamento de voo e problemas na manutenção da aeronave também são levantados como fatores que contribuíram com o acidente. Estavam a bordo o parlamentar, de 51 anos, e a empresária Rachel Loiola.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) classificou o caso envolvendo a aeronave PR-CRR, modelo T206H, como “falha do motor em voo”.
O avião monomotor foi encontrado completamente destruído em uma área de mata fechada, distante cerca de 7 km do aeródromo Macapá, no distrito Coração. Aproximadamente 2 minutos após decolar, Dalto reportou um problema técnico e o contato do rádio foi perdido. Do Aeroporto de Macapá, o destino do voo era o Aeroporto de Santarém, no Pará.
Dentro do relatório é avaliado que o deputado não era qualificado para voo por instrumentos analógicos em avião (IFRA) e não possuía experiência para a realização do tipo de voo, apesar de ter realizado curso para piloto privado em 1990 e possuir licença válida.
Peças soltas
O motor do avião foi aberto por investigadores com a finalidade de serem realizados exames visuais em suas partes internas. O resultado da abertura revelou a presença de um anel e de uma arruela soltos.
A hipótese, não conclusiva, apontada pelo Cenipa é de que o problema se deu durante a montagem do motor pelo fabricante da aeronave. Dalto não teria notado as irregularidades por ter dificuldades para analisar as informações dos instrumentos analógicos.
Sem a presença do anel, a engrenagem ficou mal ajustada. O problema, segundo o relatório, teria gerado o desgaste irregular e a expulsão do anel retentor da ranhura do eixo do motor, possivelmente durante a decolagem, quando a vibração ocorre com mais intensidade.
Acidente
Não foi possível levantar os registros acerca da aeronave, motor e hélice, assim como as horas totais de voo até a ocorrência, pois os registros que estavam a bordo da aeronave foram consumidos pelo fogo no momento do acidente. Devido ao grau de destruição, também não foi possível calcular com exatidão o peso da aeronave no momento do acidente, porém, a equipe de investigação fez uma projeção estimada e, aparentemente, a aeronave estava dentro dos limites de peso e balanceamento estabelecidos pelo fabricante.
O documento foi conclusivo em apontar as condições atmosféricas predominantes nas proximidades do aeroporto de Macapá e no local onde ocorreu o acidente com a aeronave, como sendo adversas, com forte instabilidade atmosférica e presença de nuvens. Desde as 08h, havia céu nublado e já era registrada a ocorrência de trovoada no entorno do aeroporto, acompanhado de nebulosidade baixa.
O primeiro impacto ocorreu com uma árvore, seguido de colisão contra o solo, aparentemente com as asas niveladas. Em função do impacto, houve a quebra das estruturas aerodinâmicas e das superfícies de comando, ficando os destroços distribuídos de formar linear.
Inexperiência
Dalto tinha passado a voar com mais frequência nos últimos sete anos, quando comprou o primeiro avião. O deputado gostava da atividade aérea, a qual considerava fácil.
De acordo com o relatório, os colegas da aviação consideravam que ele não tinha habilidade técnica para o voo, uma vez que não possuía muita prática, não dominava cálculos de peso e balanceamento da aeronave nem os equipamentos analógicos. Por outro lado, dominava o sistema digital do avião, para o qual realizou curso nos Estados Unidos.
“Normalmente, solicitava a outro piloto que fizesse o planejamento e a navegação para ele, visto que não tinha esse conhecimento. O controle da manutenção do avião ficava a cargo de um amigo, também piloto”, diz o documento.
É descrito ainda que, de acordo com relatos, o piloto tinha o costume de voar muito alto, sem radar meteorológico e sem saber como estavam as condições meteorológicas para o voo. Não fazia a leitura do checklist, nem observava aspectos básicos do voo.
“Houve situações em que reportou um destino e seguiu para outro. Já chegou a ser procurado pelo Salvaero por não seguir o destino indicado”, narra o relatório.
Há também informações de que, logo após a compra do avião, o piloto teve um incidente quando tentou pousar e, na sequência, arremeteu, ocasionando a quebra do trem de pouso auxiliar. Em 2010, quando o avião estava com cerca de 100 horas de voo, houve um incidente grave em Macapá por ter colocado muita carga na cauda da aeronave. Ambas as situações não foram relatadas ao Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer).