PR. GEDIELSON DE SOUZA OLIVEIRA
O cenário escolhido por Deus para propagação do Evangelho de Cristo no setentrião amazônida foi uma pacata cidadela de pouco mais de 16 mil habitantes. Nessa porção de terras paraenses, no início do século 20, ainda ressoava o episódio da queima das bíblias de um missionário e colportor colombiano de nome Clímaco Bueno Aza, no ano de 1916, quando da sua primeira incursão aqui; fato protagonizado pelo diocesano Padre Júlio Maria Lombaerd, que fez sua gestão de 1913 a 1923.
Após um breve aprisionamento, este missionário ainda retornaria aqui meses depois. Esta atitude reacionária, entretanto, a fim de inibir a obra de Deus, serviu apenas de combustível para acender a chama do pentecostes, pois, no ano seguinte, o missionário português Manuel José de Matos Caravella não somente fundou em 27 de junho de 1917 a Igreja, como comissionou à família Araújo a continuidade desta obra.
O irmão Graciliano Picanço da Silva e sua esposa Izabel Paulo de Araújo cederam sua casa, localizada à Av. General Gurjão, onde atualmente está assentado o prédio da Embratel, para a realização dos primeiros cultos.
O dia 27 de junho de 1917 foi um dia de júbilo. Ali várias pessoas aceitaram a Cristo como seu salvador pessoal. No dia 30 de junho, Jesus batizou a primeira pessoa com o Espírito Santo.
Atos 2 estava se cumprindo neste rincão tucuju. Portanto, gestacionada a obra ninguém mais podia impedir seu prosseguimento. A 25 de dezembro do mesmo ano efetuou-se o 1º batismo de cinco novos convertidos, realizado nas águas de um igarapé no entorno da Fortaleza de São José.
Esse ato transformou-se em um grande acontecimento, pois repercutiu em toda cidade. Dentre as testemunhas estavam alguns judeus comerciantes, que presenciaram o instante em que Raimunda Paula de Araújo, ao sair das águas, foi batizada com o Espírito Santo e falou em línguas estranhas com tanto poder que os assistentes ficaram atemorizados. Um dos judeus presentes, Leão Zagury,
ficou tão emocionado e maravilhado com a mensagem que ouvira, que não se conteve e clamou em alta voz, no meio da multidão: “Eis que vejo a glória de Israel, pois esta mulher falou a nossa própria língua”.
Na verdade, os anos não podem esconder tão eloquente testemunho. Aquele homem não era evangélico, mas Deus permitiu que essa mulher falasse na sua língua para que as maravilhas de Deus fossem manifestas. Diante dessas vitórias, que se tornaram públicas, os inimigos iniciaram uma nova campanha difamatória contra a Igreja.
Uma das pessoas batizadas era sifilítica; algum tempo depois, a sífilis atacou seu cérebro, e os evangélicos foram condenados pelo povo, por esse motivo. Foi uma prova de fogo para o pequeno rebanho. Deus, porém, repreendeu a enfermidade e toda a cidade tomou conhecimento de que Paulo Araújo fora curado.
Após o ímpeto da fundação da Igreja, já em 1918, o trabalho depara-se com a retirada do missionário Manuel José de Matos Caravella, que retorna a Portugal.
E entre as décadas de 20 a 40, um hiato histórico persiste em atingir o trabalho missionário da Igreja Assembleia de Deus no Amapá, isso devido a conjuntura pela qual o país passara. Entremeados às duas guerras mundiais, o trânsito no território brasileiro ficou comprometido pela paranoia beligerante das nações europeias e americana.
E o Brasil numa condição oscilante e num apoio inconsistente, ora seduzido pelo totalitarismo ítalo-germânico, ora franqueando apoio aos norte americanos, restringiu com isso o trânsito de muito missionários estrangeiros que aqui fortaleciam o trabalho da Igreja. E o Amapá nesse contexto, sofrera circunstancialmente por ser área fronteiriça e estratégica para os planos da Era Vargas.
O trabalho de pastorado da nossa Igreja era visto como uma ameaça, sob dois aspectos: na ótica católica que ainda imprimia dura perseguição sob os auspícios de ser a Assembleia de Deus uma seita que promovia desordem, dentre outros motivos, devido sua glossolalia (o falar em línguas) de qual eram avessos os sacerdotes; e na ótica política, pois muitos missionários estrangeiros eram ameaças em potenciais ao governo varguista.
Some-se a isso as inúmeras dificuldades na gestão política dos intendentes militares oriundos do Pará, as péssimas condições sanitárias e o precário atendimento médico; outras dificuldades de ordem geográfica, como a distância entre Belém e Macapá, navegada à vela durante quase um mês.
As inúmeras e inclementes doenças que vitimavam o povoado bem como a ausência de energia elétrica, desfrutada pela cidade pela primeira vez no segundo semestre do ano de 1929, na gestão do intendente Otávio Accioly Ramos, quando a comissão encarregada de proceder os levantamentos topográficos para a construção da estrada Macapá-Oiapoque, trouxe um pequeno gerador que fornecia energia para algumas casas e ruas.
Nesse interim (de 20 a 40) ficamos sob a jurisdição da AD em Belém, que, de tempos em tempos, enviava missionários ou pastores para visitá-la. Dentre essas décadas aqui estiveram os pastores: Samuel Nystrom, Daniel Berg, Nels J. Nelson, Crispiniano Melo, José Felinto, José Morais, Amaro Morais, Francisco Gaspar, Francisco Vitor, Apolinário Costa, José Laurêncio, Joviniano Lobato e Januário Soares.
Foi nesse ambiente hostil que o Espírito Santo atuou como fiel condutor desta obra, não permitindo que seus fiéis se ressentissem ou sofressem com tal repressão e os desestímulos oriundos das perseguições, visto que os evangélicos eram tidos como uma “praga” a ser extirpada pelos católicos. Um periódico chamado “A Voz Católica”, que circulou entre as décadas de 40 a 60 com forte teor de ataque aos evangélicos, rotulava-os de charlatães e vendedores de salvação.
O trabalho pastoral foi de transitoriedade sim, mas nunca de oscilação ou inconsistência doutrinária, muito pelo contrário a fé estava cada vez mais sedimentada, pois isso fora necessário para lançar os fundamentos de uma igreja que agora já manifestava uma identidade própria.
Desmembrado do Pará em 1943, o Amapá agora território federal, surge atendendo aos anseios e planos estratégicos armamentistas americanos, junto com o projeto da ICOMI. Posteriormente finda a segunda guerra mundial em 1945, o país desfruta agora de uma maior autonomia no trânsito de pessoas. Surgiram então os primeiros pastores residentes, foram eles os pastores Flávio Monteiro e João Alves, os quais construíram a primeira congregação e a casa pastoral.
No dia 1º de abril de 1948, a Igreja recebe seu primeiro dirigente, o Pr Deocleciano Cabralzinho de Assis, que em outubro de 1949 confecciona o primeiro estatuto de nossa Igreja. Sua gestão contou com a presença do missionário sueco Nels Julius Nelson, no lançamento da pedra fundamental do templo.
José Pinto de Menezes, em 1954, substituiu o Pr. Deocleciano Assis, até a chegada do Pr. Vicente Rego Barros, no dia 9 de abril. Deus confirmou o seu trabalho, pois, no final de 4 meses foram batizados 25 novos convertidos.
A 21 de agosto de 1958, inaugurou o majestoso templo (1º), com a presença do missionário Nels J. Nelson e dos pastores Francisco Pereira do Nascimento e Túlio Barros. Nesse dia, 34 pessoas foram batizadas nas águas e 12 aceitaram a Jesus como salvador.
Em 1974, a igreja contava com 11 mil membros em todo o território, fato notório é que na cidade de Oiapoque já havia 200 índios convertidos ao Evangelho, entre os quais muitos já batizados com Espírito Santo.
E a chama nunca mais se apagou. Parabéns; você é um privilegiado. Você faz parte da geração do centenário. Deus vos abençoe. Amém!
*Membro da Comissão de História do Centenário IEAD Pioneira
Funcionário Público Agente de Polícia Civil
Professor de História; Teologia e EBD no T.C
Bacharel e licenciado em História – UNIFAP
Pós graduado em História – Fac. Atual
Bacharel em Teologia – FATECH
Estudante concluinte da EETAD
Macapá-AP; 28.01.2017