SELES NAFES
Parentes, amigos e voluntários da clínica acusada de torturar pacientes em tratamento contra a dependência química, na zona norte de Macapá, afirmam que tudo não passa de uma trama arquitetada por um ex-interno e hoje proprietário de outra clínica.
Em audiência de custódia realizada na tarde deste sábado, 11, a Justiça decretou a prisão preventiva dos proprietários do centro de reabilitação que funciona na zona norte de Macapá.
Francisco Charles Marinho Brito e o irmão dele, Iran Célio Marinho Brito, foram levados para o Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen) no início da noite. O magistrado que julgou o caso teria dito que a prisão seria necessária em nome do “clamor popular”.
Na última sexta-feira, 10, uma operação do MP e da Polícia Civil do Amapá cumpriu um mandado de busca e apreensão no centro onde 42 pessoas estavam em tratamento para dependência de drogas, entre elas 6 menores de idade.
O MP e a Polícia Civil apreenderam medicamentos, sprays de pimenta e até uma suposta palmatória, além de algemas.
“Algema é utilizada em internações compulsórias quando a família permite isso em contrato. Spray de pimenta a gente não tinha conhecimento, podem ser de funcionários que têm folga e depois voltam para trabalhar. O pedaço de pau foi eleito como palmatória pelo Ministério Público”, criticou o professor Lázaro Lopes Conceição Júnior, que atua na terapia de pacientes.
Lázaro Júnior e cerca de 20 pessoas, entre amigos e voluntários, acompanharam a audiência de custódia no fórum de Macapá. Eles negaram que houvesse tortura física.
“Todos os internos passaram por exame de corpo de delito que deu negativo para todos”, garantiu o professor. “No decorrer desse processo pacientes que foram tratados lá poderão testemunhar a nosso favor”, acrescentou ele.
O grupo que apoia a clínica diz estranhar a prisão flagrante e depois a transformação em prisão preventiva sem que testemunhas de defesa tenham sido ouvidas.
Amigos atribuem as denúncias contra a clínica a uma pessoa que teria sido tratada no lugar e fugido antes de terminar a terapia. Esse homem teria depois de tornado terapeuta e fundado o próprio centro para reabilitação de pessoas dependentes.
“Na semana passada ele ligou para o Charles dizendo que tinha voltado a usar droga e queria voltar para a clínica. O Charles foi buscá-lo. Ele voltou e lá dentro começou a fazer a cabeça de outros internos”, acusa Raquel do Socorro da Silva Borges, amiga dos proprietários, afirmando que o ex-interno na verdade queria se infiltrar para convencer os pacientes a fazer as denúncias.
A esposa de Charles Brito, Ana Célia Costa, disse que o marido dá a vida pelos internos e o trabalho desenvolvido pela clínica. Assista.
Advogados da família pedirão a revogação da prisão.
“Não são bandidos. Têm família, residência, nível superior e são cidadãos de bem a frente de um projeto grandioso que trazia um benefício muito grande para a sociedade. Meus irmãos não tiveram oportunidade de se defender. Onde estão os laudos técnicos que comprovam a suposta tortura? Estou aqui como cidadã exigindo o direito de defesa dos meus irmãos”, criticou Patrícia Marinho, irmã dos acusados.
“Eles não têm o direito de se defender. Só uma parte está sendo ouvida nessa história?”, questionou ela.
Valores
Logo após a operação, a Polícia Civil também informou que a clínica recebia de familiares dos internos valores entre R$ 800 e R$ 1,2 mil como pagamento pelo tratamento. O grupo nega.
“Os valores são usados no custeio de alimentação e eram de até R$ 1 mil, mas alguns contribuíam só com R$ 600 e até R$ 400. Outros nem davam nada”, garantiu Lázaro Júnior.
A clínica não foi fechada. As mulheres que fazem tratamento no lugar pediram para permanecer no centro. Outros, segundo o grupo de amigos, voltaram a usar álcool e estão no local.